Eduardo prado Coelho e a música brasileira
Ao ler ontem o Público fiquei de boca aberta de espanto: na sua crónica, Eduardo Prado Coelho fala de Simone e de quão comovido ficou com o seu concerto de há dias no Coliseu. Através da leitura das sua crónicas, fiz de Eduardo Prado Coelho uma imagem que eu nada me faria crer que se deixasse emocionar tanto por músicas essencialmente românticas: “há concertos (...) que nos deixam um sentimento de felicidade como se o tempo se tivesse rompido e tivéssemos entrado e caminhado numa planura de encantamento”. Quem diria que este intelectual português, que normalmente diz mal de tudo e todos, goste de música, banal, tão apreciada pelo povo e considere que a “música brasileira nos deixa num estado de felicidade”. Imagino EPC a gostar de música “intelectualmente alta”, de música minimalista, mas não da música de Simone, “romântica, amorosa, romanesca, espreguiçada“. Não consigo imaginar EPC a cantar música brasileira “O que conta é o encostar da cabeça e deixar a boca murmurar a música”. EPC apaixonado? A louvar o amor? “existem dois tipos de temas: que são do elenco mais banal da temática amorosa. Por um lado temos a euforia de estar apaixonado: a festa do amor”. Repito o meu espanto: EPC apaixonado? Pois é, todos nós fazemos do outro uma imagem e aí o retemos. Mas o seu humano é feito de várias facetas e até um intelectual de esquerda se pode apaixonar e emocionar com música brasileira romântica.
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