quinta-feira, maio 16, 2013

o muro verde ou reflexões durante uma conferência

Estamos em maio e chove. Faz frio e chove. O centenário claustro por onde em séculos passados se passeavam as freiras, tem os muros verdes de tanta água que neste inverno tem caído do céu. 
No entanto, o tempo é de festa. Há que vestir com roupagens novas e alegres pessoas e coisas. A chuva teima porém em cair. Um soldado raspa o verde dos muros. O pintor mexe e remexe a tinta, ajeita o cartão no chão para que nenhuma pinga caia nas pedras seculares já pisadas pela Rainha Santa. Ajeita o gorro, mergulha o pincel na tinta e começa a acariciar o muro. O branco passa a verde. Mas a chuva teima em cair, cada vez com mais intensidade. O pintor olha para o céu. Será uma prece? Sente-se abandonado. Agarra no balde de tinta e no cartão e retira-se para a proteção do teto do claustro. Ali fica parado, mãos atrás das costas, olhando a chuva que não quer parar.
Como vestir de branco este muro agora verde? Como o pôr com vestes de festa para o grande dia de amanhã? Os deuses continuam a chorar. O pintor continuar a cismar, O muro continua por vestir.