segunda-feira, novembro 07, 2011

ERICH KÄSTNER - O ESCRITOR DA NOSSA INFÂNCIA

Quem não leu em criança “Emílio e os detectives” de Erich Kästner? No entanto, Erich Kästner também é autor de poesias eróticas e de poemas políticos muito amargos que lhe valeu ser banido durante o III Reich.

Erich Kästner foi um homem que viveu sempre triste, profundamente triste – como pôde escrever histórias infantis tão alegres como a já referida “Emílio e os detectives” (Emil und die Dektetive) ou “As gémeas” (Doppelte Lottchen), que já serviu de base a tantos e tantos filmes, o último dos quais passou há pouco tempo nas nossas salas de cinema com o título “Pai para mim, mãe para ti?
Quem conheceu Erich Kästner ficava invariavelmente contagiado com essa tristeza que vinha do fundo da alma. O ambiente político não ajudava, mas a sua melancolia era visceral e quase genética.

“Sou como uma árvore”
Kästner nasceu a 23 de Fevereiro de 1899 em Dresden, um cidade com uma tradição cultural muito forte. A mãe era costureira e o pai chefe duma cavalariça.
Aos vinte anos, termina a licenciatura em Germanística, História, Ciência Teatral e Filosofia. A sua formação humanística e alemã tem aqui os seus fundamentos.
Erich Kastner era alemão do fundo do coração. Apesar de criticar ferozmente a situação política, nunca deixou de se sentir alemão: “Eu sou um alemão de Dresden, na Saxónia. / Não abandono a pátria./ Eu sou como uma árvore que cresceu na Alemanha./ Se for necessário, morrerei na Alemanha”.
Em 1929, publica o seu primeiro livro: “Emílio e os Detectives”, uma história infantil cheia de aventuras, onde introduz na literatura alemã o realismo social. Entretanto vai redigindo poesias eróticas, sátiras mordazes e poemas políticos muito amargos. Não se comforma com o ambiente político que se vive no seu país. Os nazis tomam o poder em 1933, ano é que preso pela Gestapo e em que os seus livros – por essa altura já tinha publicado mais obras – são queimados juntamente com os livros de todos os autores não gratos ao regime nacional-socialista.

Mesmo proibido, continua a publicar
O episódio da queima dos livros e a sua prisão pela Gestapo não o impedem de continuar a escrever poemas humorísticos, irónicos e sarcásticos contra a falsa moralidade, o militarismo e o fascismo. Goebbels fecha os olhos a este facto e, sob um pseudónimo, Kästner escreve o argumento do filme “Münchhausen – as incríveis aventuras do imortal barão mentiroso”, produzido em 1942. É este o facto que leva a grandes discussões entre os alemães depois da guerra. Afinal, era Kästner colaboracionista? A polémica continua até hoje.
Com o final da guerra, Kästner funda a revista Novo Jornal. Mesmo apesar das dúvidas que pairam sobre o seu passado, Kästner continua a incomodar tudo e todos. Em 1965, lança uma grande acção contra a guerra do Vietname e contra o arquivo dos crimes de guerra.

Grande amor pela mãe
A mãe foi sempre um ídolo para Kästner, a quem se sentiu ligado toda a vida. Aproveita todas as ocasiões para lhe agradecer não só a educação que lhe deu, mas também a possibilidade de estudar e de se formar.
No entanto, este amor não lhe perturbou a sua relação com as mulheres. Teve um número sem fim de paixões. Admirava a mente e a decisão das mulheres. E nunma época em que ainda não se falava de feminismo, Kästner era um grande defensor dos direirtos da mulher. Talvez esta sua paixão se devesse ao facto de Kästner sempre se ter dedicado a defender os mais desprotegidos: “E quando a guerra seguinte começou / as mulheres disseram: Não / e fecharam-se em casa / com os irmãos, filhos e maridos. / Depois andaram por todo o país / ... / levavam paus nas mãos / e tiraram muitos homens das suas casas. / Deitaram-nos sobre os joelhos / a esses que decretaram a guerra: / os donos dos bancos e da indústria / o ministro e o general./ Muitos paus partiram-se ao meio / ... / Em todos os países houve gritos / e nunca mais houve guerra”.
A 29 de Julho de 1974, Erich Kästner morre em Munique.