O exibicionismo do ministro - um conto -
Era uma vez um ministro da Populândia , um país que vivia
em graves crises económicas. Este ministro e todos os outros ministros do
governo passavam o tempo a falar da crise e a sua obsessão era a redução dos
custos. Tudo se cortava. Os ordenados, as regalias, os cuidados de saúde, o
ensino. Fechavam-se hospitais, fechavam-se bibliotecas, fechavam-se escolas. A
obsessão com os custos era tão grande que se fechava sem olhar a quê. Bons
hospitais? Fecham-se! Escolas de excelência? Fecham-se!
Mas este ministro – e possivelmente todos os outros – que
mandavam fechar, cortar, acabar, destruir, achava que encerramentos, cortes,
finais, destruições não eram para ele. Ele era ministro, estava acima de tudo
isso. Crise? Não para ele. Os fatos eram dos melhores. As camisas com monograma
gravado, e canetas, bem, canetas, a sua paixão. E não se contentava com uma.
Nem com duas. Nem com três. O ministro vivia rodeado de canetas. Tinha que as
ter todas ao seu lado. Poderia ele lá viver sem as suas 24 canetas Montblanc?!
Jamais! Até nas reuniões com os seus parceiros, ele não podia separar-se das
suas canetazinhas. Como? Imaginem que tinha de escrever uma palavra? Se não
tivesse ali ao seu lado as suas 24 Montblanc, como seria? Como poderia
escrever? E nas reuniões, o ministro não ouvia quem lá ia falar consigo. Estava
concentrado nas suas canetas. Em afagá-las. Em colocá-las bem arrumadinhas na
sua caixinha. Cada frase que escrevia tinha de ser com uma caneta diferente.
Duas frases com a mesma caneta? Oh, que horror! Que vulgar! Tão povo! Não,
antes de escrever qualquer frase, havia que estudar bem a coleção de canetas,
escolher, olhar bem para ela, abri-la lentamente, levá-la ao papel, escrever
duas ou três palavras, voltar a colocar a tampa, afagá-la, colocá-la
cuidadosamente na sua cama, qual tesouro precioso, passar-lhe novamente a mão
para se certificar de que estava bem instalada, e olhar para a coleção para
escolher a caneta com que iria escrever mais uma frase….
Ouvir os seus interlocutores? Não. As canetas Montblanc à
sua frente eram muito mais importantes, nunca reclamavam, não exigiam a
reabertura dos hospitais, das bibliotecas, das escolas….
Etiquetas: canetas Montblanc ministro
1 Comments:
Há algumas semelhanças entre a Populândia e Portugal.
Também cá temos um Ministro, o da Defesa Nacional, que passa as reuniões a brincar com canetas Montblanc, por sinal também 24.
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