segunda-feira, outubro 21, 2013

Porquê nivelar por baixo? Porquê encerrar uma escola de excelência?

O governo português parece ter encetado uma cruzada cujo objetivo é nivelar por baixo, em vez de olhar para a excelência.

Numa época de crise económico-financeira como a que vivemos atualmente em Portugal, o governo de pedro Passos Coelho tem decidido cortar sem olhar a quê, argumentado custos económicos.
A foice destruidora do governo chegou também à única escola militar feminina com internato existente em Portugal, o Instituto de Odivelas (IO).
Em 1898, um grupo de oficiais, preocupados com o destino e o futuro das órfãs de oficiais mortos no Ultramar, decide juntar-se, quotizar-se e criar em Portugal uma instituição idêntica ao Collège de la Légion d’ Honneur, fundada por Napoleão Bonaparte, para acolher e educar as órfãs de oficiais. Tinha nascido a primeira grande obra de solidariedade das Forças Armadas portuguesas.
No ano seguinte, a 9 de Março, o rei D. Carlos assinou o decreto de aprovação do estatuto do Instituto Infante D. Afonso. A 14 de Janeiro de 1900, o Instituto é inaugurado solenemente com dezassete alunas. À inauguração assistiu a família real que assinou o auto de inauguração. As aulas começam de imediato. 

O IO funciona no Mosteiro de São Dinis e Bernardas em Odivelas, construído em 1295 pelo rei D. Dinis  cujo túmulo  se encontra na capela absidal. Neste mosteiro morreu a rainha D. Filipa de Lencastre, refugiou-se uma outra D. Filipa de Lencastre, filha do infante D. Pedro, após a batalha da Alfarrobeira, viveu segundo as normas do ideal ascético, a irmã de D. João II, princesa Santa Joana. 

A instrução oficial feminina estava nessa época muito descurada em Portugal, limitando-se ao ensino primário. A administração do Instituto decidiu porém que o ensino secundário ali fosse igualmente ministrado; assim, as alunas, completada a instrução primária, transitavam para o ensino secundário, com a duração de três anos, seguindo-se o método e os livros adotados no país. Além das disciplinas obrigatórias do ensino secundário oficial, as alunas tinham também educação religiosa e moral assim como aulas de ensino doméstico, considerado indispensável a uma completa educação feminina. Também muito importante para as alunas foi a decisão de implantarem o ensino profissional para que as educandas saíssem dos instituto aptas a desempenhar uma profissão.

Nestes 113 anos de existência, o IO tem vindo a formar meninas que provêm de todas as classes sociais e são oriundas de todo o País, tendo dado ao longo da sua história uma educação de excelência às Meninas de Odivelas’, designação por que foram e são ainda hoje carinhosamente tratadas, ocupado em Portugal e no estrangeiro inúmeras posições de destaque ao serviço do País e da Sociedade Portuguesa.

Dado que a diversidade do ensino é uma das riquezas dos sistemas educativos, apanágio de uma sociedade moderna, democrática e livre, também aqui não se vislumbra motivo que aponte para tal conclusão extrema.

O Instituto de Odivelas é uma Escola de valores, de competência e de rigor, forma mulheres equipadas para entender e lidar com a complexidade de situações que a vida oferece. Garante às famílias das alunas uma escola segura, que sempre se soube adaptar à realidade envolvente e tirar partido dela. Para algumas alunas foi a sua única família, para outras uma extensão da sua família natural, para todas um espaço educativo de alto nível, capaz de despertar e estimular a curiosidade científica, o espírito crítico, ideais de ação em prol da comunidade e espírito de camaradagem.

Foi aqui que estudaram, por exemplo, Isabel Gago, 1ª professora catedrática do IST, Paula Costa, a 1ª aviadora militar portuguesa, Ana Maria Lobo, a fundadora da Associação Portuguesa das Mulheres Cientistas, Irene Fonseca, catedrática de Matemática do Mellon College of Science da Universidade de Carnegie Mellon em Pittsburgh nos EUA e 1ª mulher presidenta da   Sociedade de Matemáticas  Industriais e Aplicadas, Teresa Cunha Lopes, Catedrática de História do Pensamento Económico, História do Direito e Direito Romano da Faculdade de Direito e Ciências Sociais da Universidade Michoacana de San Nicolás de Hidalgo, entre muitíssimas outras Grandes Mulheres.
Alegando razões económicas que já foram rebatidas, o governo português decidiu o encerramento desta escola em 2015. Porquê nivelar por baixo em vez de nivelar por cima? Porquê encerrar uma escola que está nos melhores lugares do ranking? Não o entendemos e não o aceitamos.

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