Porquê nivelar por baixo? Porquê encerrar uma escola de excelência?
O governo português
parece ter encetado uma cruzada cujo objetivo é nivelar por baixo, em vez de
olhar para a excelência.
Numa época de
crise económico-financeira como a que vivemos atualmente em Portugal, o governo
de pedro Passos Coelho tem decidido cortar sem olhar a quê, argumentado custos
económicos.
A foice destruidora
do governo chegou também à única escola militar feminina com internato
existente em Portugal, o Instituto de Odivelas (IO).
Em 1898, um grupo de
oficiais, preocupados com o destino e o futuro das órfãs de oficiais mortos no
Ultramar, decide juntar-se, quotizar-se e criar em Portugal uma instituição
idêntica ao Collège de la Légion d’ Honneur, fundada por Napoleão Bonaparte,
para acolher e educar as órfãs de oficiais. Tinha nascido a primeira grande
obra de solidariedade das Forças Armadas portuguesas.
No ano seguinte, a 9
de Março, o rei D. Carlos assinou o decreto de aprovação do estatuto do Instituto
Infante D. Afonso. A 14 de Janeiro de 1900, o Instituto é inaugurado
solenemente com dezassete alunas. À inauguração assistiu a família real que
assinou o auto de inauguração. As aulas começam de imediato.
O IO funciona no Mosteiro de
São Dinis e Bernardas em Odivelas, construído em 1295 pelo rei D. Dinis cujo túmulo se encontra na
capela absidal. Neste mosteiro morreu a rainha D. Filipa de Lencastre,
refugiou-se uma outra D. Filipa de Lencastre, filha do infante D. Pedro, após a
batalha da Alfarrobeira, viveu segundo as normas do ideal ascético, a irmã de
D. João II, princesa Santa Joana.
A instrução oficial feminina
estava nessa época muito descurada em Portugal, limitando-se ao ensino
primário. A administração do Instituto decidiu porém que o ensino secundário
ali fosse igualmente ministrado; assim, as alunas, completada a instrução
primária, transitavam para o ensino secundário, com a duração de três anos,
seguindo-se o método e os livros adotados no país. Além das disciplinas
obrigatórias do ensino secundário oficial, as alunas tinham também educação
religiosa e moral assim como aulas de ensino doméstico, considerado indispensável
a uma completa educação feminina. Também muito importante para as alunas foi a
decisão de implantarem o ensino profissional para que as educandas saíssem dos
instituto aptas a desempenhar uma profissão.
Nestes 113 anos de existência, o IO tem vindo
a formar meninas que provêm de todas as classes sociais e são oriundas de todo
o País, tendo dado ao longo da sua história uma educação de excelência às Meninas
de Odivelas’, designação por que foram e são ainda hoje carinhosamente
tratadas, ocupado em Portugal e no estrangeiro inúmeras posições de destaque ao
serviço do País e da Sociedade Portuguesa.
Dado que a diversidade do ensino é uma das
riquezas dos sistemas educativos, apanágio de uma sociedade moderna,
democrática e livre, também aqui não se vislumbra motivo que aponte para tal
conclusão extrema.
O Instituto de Odivelas é
uma Escola de valores, de competência e de rigor, forma mulheres equipadas para
entender e lidar com a complexidade de situações que a vida oferece. Garante às
famílias das alunas uma escola segura, que sempre se soube adaptar à realidade
envolvente e tirar partido dela. Para algumas alunas foi a sua única família,
para outras uma extensão da sua família natural, para todas um espaço educativo
de alto nível, capaz de despertar e estimular a curiosidade científica, o
espírito crítico, ideais de ação em prol da comunidade e espírito de
camaradagem.
Foi aqui que estudaram, por
exemplo, Isabel Gago, 1ª professora catedrática do IST, Paula Costa, a 1ª
aviadora militar portuguesa, Ana Maria Lobo, a fundadora da Associação Portuguesa
das Mulheres Cientistas, Irene Fonseca, catedrática de Matemática do Mellon
College of Science da Universidade de Carnegie Mellon em Pittsburgh nos EUA
e 1ª mulher presidenta da Sociedade de Matemáticas Industriais e Aplicadas,
Teresa Cunha Lopes, Catedrática de História do Pensamento Económico, História do
Direito e Direito Romano da
Faculdade de Direito e Ciências Sociais da Universidade
Michoacana de San Nicolás de Hidalgo, entre muitíssimas outras
Grandes Mulheres.
Alegando
razões económicas que já foram rebatidas, o governo português decidiu o
encerramento desta escola em 2015. Porquê nivelar por baixo em vez de nivelar
por cima? Porquê encerrar uma escola que está nos melhores lugares do ranking?
Não o entendemos e não o aceitamos.
Etiquetas: Instituto de Odivelas
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