quarta-feira, julho 02, 2014

Jardim, local de passagem, repouso, observação

O céu começou a fechar-se com nuvens plúmbeas ameaçadoras. Tal porém parecia não incomodar ninguém. O jardim mantinha o seu ritmo de sempre. O carrossel com cavalinhos de madeira continuava a rodar ao som da música que vinha dum acordeão.

_ Mamã, posso andar? – perguntava a criança. E a mãe ajudou-a a subir para o cavalinho. A criança agarrou-se as crinas de madeira, afagou-as com se fosse reais e deixou-se levar pelo sonho, rodando e elevando-se do chão.

O sem-abrigo, sentado no banco de jardim em frente do carrossel  rapou da sua baguette, partiu um pedaço e começou a comê-lo, amolecendo-o com o sumo fermentado de uva que o fará esquecer os seus problemas.

Duas amigas encontram-se. Beijos. Os filhos estão bem. O marido também. O emprego sem novidades. Sentam-se num banco para trocar pedaços devida.
No banco ao lado, o reformado lê o jornal. Vir para o jardim dá aos seus dias a rotina de outrora. Vê caras, ouve histórias, vive.

O estudante deitado na relva adormeceu. A noite foi curta, o dia passado nas salas de aula. È preciso retemperar forças para a noitada que promete.

A velhota trouxe um pedaço de pão e esfarela para os pombos. São a sua família com quem partilha a refeição. Vai dando o pão e contando-lhes a sua vida passada.

Um pingo. Dois pingos. Três pingos. O dono do carrosel desligou a música e o carrossel. Os cavalinhos de madeira pararam As crianças fizeram beicinho.

- Porque tenho de deixar o meu cavalinho?
- Vai chover, - disseram as mães. - Temos de ir para casa.

Sem pressa, o dono do carrossel começou a colocar o gradeamento. As amigas despediram-se. O reformado dobrou o jornal, levantou-se e foi para casa. A velhota despediu-se dos pombos. O estudante sentou-se admirado. Chuva? Levantou-se  e foi para o café beber um latte macchiato.


Cada vez caíam mais pingos. Chovia torrencialmente. Só o sem-abrigo ali ficou no jardim, no seu banco, debaixo da árvore. Estava em casa.