Jardim, local de passagem, repouso, observação
O céu começou a fechar-se com nuvens plúmbeas ameaçadoras.
Tal porém parecia não incomodar ninguém. O jardim mantinha o seu ritmo de sempre. O carrossel com cavalinhos
de madeira continuava a rodar ao som da música que vinha dum acordeão.
_ Mamã, posso andar? – perguntava a criança. E a mãe
ajudou-a a subir para o cavalinho. A criança agarrou-se as crinas de madeira,
afagou-as com se fosse reais e deixou-se levar pelo sonho, rodando e
elevando-se do chão.
O sem-abrigo, sentado no banco de jardim em frente do
carrossel rapou da sua baguette, partiu
um pedaço e começou a comê-lo, amolecendo-o com o sumo fermentado de uva que o
fará esquecer os seus problemas.
Duas amigas encontram-se. Beijos. Os filhos estão bem. O
marido também. O emprego sem novidades. Sentam-se num banco para trocar pedaços
devida.
No banco ao lado, o reformado lê o jornal. Vir para o jardim
dá aos seus dias a rotina de outrora. Vê caras, ouve histórias, vive.
O estudante deitado na relva adormeceu. A noite foi curta, o
dia passado nas salas de aula. È preciso retemperar forças para a noitada que
promete.
A velhota trouxe um pedaço de pão e esfarela para os pombos.
São a sua família com quem partilha a refeição. Vai dando o pão e contando-lhes
a sua vida passada.
Um pingo. Dois pingos. Três pingos. O dono do carrosel
desligou a música e o carrossel. Os cavalinhos de madeira pararam As crianças
fizeram beicinho.
- Porque tenho de deixar o meu cavalinho?
- Vai chover, - disseram as mães. - Temos de ir para casa.
Sem pressa, o dono do carrossel começou a colocar o
gradeamento. As amigas despediram-se. O reformado dobrou o jornal, levantou-se
e foi para casa. A velhota despediu-se dos pombos. O estudante sentou-se
admirado. Chuva? Levantou-se e foi para
o café beber um latte macchiato.
Cada vez caíam mais pingos. Chovia torrencialmente. Só o
sem-abrigo ali ficou no jardim, no seu banco, debaixo da árvore. Estava em
casa.
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