sexta-feira, novembro 21, 2014

Recital de piano na Igreja da Misericórdia de Tavira em homenagem a Maria Campina


Pareciam as pernas de uma aranha a saltitar. Os dedos andavam de tecla em tecla uma velocidade estonteante. Os fios invisíveis que os ligavam ao cérebro do pianista lá estavam a mexer as extremidades das mãos como se fossem marionetas.


Mas a concentração era difícil. O senhor da fila 4 puxava a expetoração nasal com tanta energia que quase a podíamos imaginar a sair pelo nariz. A velhota da 6 tossia uma tosse seca de cão. A jovenzita da fila 2 espirrava ruidosamente. Na fila 8, a senhora de casco verde desembrulhava rebuçados. Na fila 3,a a rapariga remexia furiosamente a mala procurando não sei o quê. A criança da fila 1 brincava com o programa que caía constantemente no chão.
Lá fora a chuva caía insistentemente na calçada.

Mas o pianista parecia estar noutro mundo, absorto e indiferente a todos estes ruídos. Os seus dedos continuavam a correr sobre as teclas, tocando o Improviso Opus 142, nº 2, de Schubert.

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