sexta-feira, setembro 29, 2017

Construir uma casa - Dar sem receber - 3

2º dia de trabalhos
Não trabalhámos de sol a sol mas das 9h às 17h - quase como a vida de escrituraria "nine to five" mas bastante mais cansativa fisicamente....
Hoje já se começa a ver o resultado do nosso trabalho. Um grupo ficou a trabalhar dentro, a encher as paredes interiores com cimento, e outro grupo ficou fora. 


















A boa disposição do Sr. Bernardino, o chefe da obra











Este grupo do exterior subdividiu-se: umas misturavam areia, água e cimento e outras preparavam as paredes exteriores para receber o reboco: primeiro molhando muito bem os tijolos, depois espichando, ou seja, atirando cimento para a parede, e por fim alisando o cimento com a talocha.
Constantemente nos tínhamos de baixar para encher a talocha com cimento e depois com um gesto decidido atirar o cimento em arco para a parede. Ao princípio trabalhávamos de pé, mas à medida que nos aproximávamos do chão tínhamos de nos baixar. 
As que faziam o cimento tinham de no-lo dar, pois nós estávamos sobre o andaime. Calculo que amanhã as misturadoras de cimento estejam com dor nos braços por terem de levantar as gamelas e os baldes de água até à altura do andaime.




Mais interessante do que o trabalho na obra foram as pessoas que nos acompanharam nesta experiência. O Sr. Bernardino, o mestre, com uma paciência de santo a explicar-nos todas as tarefas, sempre com uma boa disposição contagiante e uma paciência sem limites. O Sr. Francisco, mais calado, fazia o seu trabalho de encher os buracos dos tijolos com cimento, sem se deixar perturbar pelo barulho de 12 mulheres. Mas quem sem dúvida marcou todos os corações for Ahmed, o refugiado sírio que chegou a Portugal há somente 4 meses, fugindo da guerra em Alleppo. a sua cidade, e depois de uma passagem pela Grécia. Na Síria, Ahmed fazia moldes para a indústria dos sapatos. Aqui está na construção civil. Fugiu da guerra com a mulher, um filho e uma filha. O terceiro filho vem a caminho. quis o destino que entre as voluntárias do Connect to Success esteja uma empreendedora que trabalha com sapato e luvas e que vai tentar conseguir-lhe um trabalho numa fábrica de sapatos.
Puxar tantas horas pelo corpo, fez com que chegasse ao autocarro e dormisse todo o caminho de regresso até Palmeia, onde é a Domus da Habitat.
Felizmente a piscina esperava por mim e foi como um bálsamo atirar-me para a água e dar umas boas braçadas. 


Ao jantar fez-se o balanço destes dois dias de trabalho de construção. Para todas as voluntárias foi uma experiência inesquecível do ponto de vista humano.  

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