Batalha perdida? Estamos a retroceder na luta sobre paridade de género
Há algumas semanas Pat Milligan tinha estado em
Davos, a discutir o que atualmente mais preocupa os principais líderes
empresariais e políticos a nível mundial e vinha agora falar em Lisboa sobre 4ª
Revolução Industrial e os seus impactos na Gestão do Capital
Humano em três dimensões: educação, diversidade de género e carreira.
Porém logo no início da palestra, recebemos um
murro no estômago. Pat Milligan apresentava-nos, preto no branco, números que
mostram que a luta pela paridade de género está a ficar estagnada, até mesmo a
retroceder, e que o futuro vai ficar ainda pior para as mulheres. Estamos a
retroceder!
Como é que é possível? Vejamos a realidade. Por
um lado, a sociedade está empenhada em igualar as disparidades de género
existentes. As empresas multiplicam-se em programas de apoio à paridade e à
diversidade. Mas por outro lado, estamos a assistir à chamada 4ª Revolução
Industrial: a robótica, a inteligência artificial e outras novidades
tecnológicas estão a tomar conta do quotidiano, a transformar o mercado de trabalho
e alterar a noção do que significa ser “empregado”.
Se bem que todos estes avanços tenham efeitos
muito positivos nas nossas vidas a nível da ciência, da saúde, da educação, não
podemos fechar os olhos às perturbações que vai criar no nosso dia-a-dia e na
essência do nosso trabalho. E quem vai ser mais afetado? As mulheres!
No seu relatório “O Futuro das Profissões” (http://reports.weforum.org/future-of-jobs-2016/), o Fórum Económico Mundial de 2016 calcula que até 2020 (ou seja,
nos próximos três anos!), 35% das competências básica profissionais irão sofrer
alterações. Muitas profissões irão desaparecer e muitas novas profissões irão
surgir – e tudo isto vai afetar homens e mulheres e abrir ainda mais a
disparidade de género. Porquê?
Mercer analisou um universo de 1.6 mil milhões
de profissões em todo o mundo e concluiu que o número de empregos ligados à
gestão está a aumentar. Esta área é ocupada somente por 25% de mulheres. Como
vimos, os lugares de gestão estão ocupados maioritariamente por homens (75%) –
ou seja, a disparidade vai ser ainda maior. Com a 4ª Revolução Industrial as
profissões que vão desaparecer são as de apoio – e é nestas que trabalha a
maioria das mulheres. Ou seja, as mulheres estão na linha da frente dos
despedimentos da 4ª Revolução Industrial!
Como tentar travar esta tendência? Segundo este
estudo, as profissões de futuro – e nas quais as mulheres estão nitidamente
sub-representadas – são as ligadas à ciência, à tecnologia, à engenharia (só há
uma participação de 11% de mulheres!) e à matemática. Estes novos dados mostram
a necessidade de recrutar e promover as mulheres nestes setores. Muitas das
grandes empresas da área da tecnologia já estão a ir às universidades e
incentivar as mulheres em cursos mais tecnológicos. Mas o trabalho tem de
começar ainda mais atrás, logo nos jardins-de-infância, promovendo a tecnologia
junto das meninas. Há que mudar mentalidades – o mais difícil de tudo.
Pat Milligan não se cansou de realçar o impacto
que a paridade de género tem no desenvolvimento das empresas e dos países.
Aumentar a diversidade a nível de liderança é um fator de crescimento do PIB
nacional. Tal já o provaram cinco grandes países: Japão, Alemanha, Canadá, EUA
e Brasil. E quando se fala em diversidade abrange-se todo o espectro: género,
cultura, religião, idade.
Há que mudar muitos paradigmas. Há que
implementar novas leis que são importantes para ajudar a mudar mentalidades. Há
empresas que dão bons exemplos. Dois dos maiores fundos americanos de pensões
só investem atualmente em empresas que apresentem a maior diversidade.
A vida como a conhecemos está a mudar. As novas
gerações têm de pegar seriamente no tema da diversidade para se retroceder.
Temos de continuar a andar para a frente.
Etiquetas: diversidade, Mercer, paridade de género, Pat Milligan
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