quarta-feira, maio 31, 2017

Batalha perdida? Estamos a retroceder na luta sobre paridade de género

 Numa linda manhã de céu azul, sol a brilhar e passarinhos a chilrear nas árvores, saí de casa toda esperançada na palestra que iria assistir. Mercer tinha convidado vários clientes e amigos para uma palestra com Pat Milligan, Senior Partner e Líder Global de Multinational Client Services, a antiga Presidente Regional da América do Norte da Mercer – e grande lutadora pela paridade de género nas empresas e na sociedade, líder de When Women Thrive, a investigação que reúne a experiência da Mercer e ajuda os clientes a compreender os motores do êxito alavancados na diversidade de género.

Há algumas semanas Pat Milligan tinha estado em Davos, a discutir o que atualmente mais preocupa os principais líderes empresariais e políticos a nível mundial e vinha agora falar em Lisboa sobre 4ª Revolução Industrial e os seus impactos na Gestão do Capital Humano em três dimensões: educação, diversidade de género e carreira.
Porém logo no início da palestra, recebemos um murro no estômago. Pat Milligan apresentava-nos, preto no branco, números que mostram que a luta pela paridade de género está a ficar estagnada, até mesmo a retroceder, e que o futuro vai ficar ainda pior para as mulheres. Estamos a retroceder!
Como é que é possível? Vejamos a realidade. Por um lado, a sociedade está empenhada em igualar as disparidades de género existentes. As empresas multiplicam-se em programas de apoio à paridade e à diversidade. Mas por outro lado, estamos a assistir à chamada 4ª Revolução Industrial: a robótica, a inteligência artificial e outras novidades tecnológicas estão a tomar conta do quotidiano, a transformar o mercado de trabalho e alterar a noção do que significa ser “empregado”.
Se bem que todos estes avanços tenham efeitos muito positivos nas nossas vidas a nível da ciência, da saúde, da educação, não podemos fechar os olhos às perturbações que vai criar no nosso dia-a-dia e na essência do nosso trabalho. E quem vai ser mais afetado? As mulheres!
No seu relatório “O Futuro das Profissões” (http://reports.weforum.org/future-of-jobs-2016/), o Fórum Económico Mundial de 2016 calcula que até 2020 (ou seja, nos próximos três anos!), 35% das competências básica profissionais irão sofrer alterações. Muitas profissões irão desaparecer e muitas novas profissões irão surgir – e tudo isto vai afetar homens e mulheres e abrir ainda mais a disparidade de género. Porquê?
Mercer analisou um universo de 1.6 mil milhões de profissões em todo o mundo e concluiu que o número de empregos ligados à gestão está a aumentar. Esta área é ocupada somente por 25% de mulheres. Como vimos, os lugares de gestão estão ocupados maioritariamente por homens (75%) – ou seja, a disparidade vai ser ainda maior. Com a 4ª Revolução Industrial as profissões que vão desaparecer são as de apoio – e é nestas que trabalha a maioria das mulheres. Ou seja, as mulheres estão na linha da frente dos despedimentos da 4ª Revolução Industrial!
Como tentar travar esta tendência? Segundo este estudo, as profissões de futuro – e nas quais as mulheres estão nitidamente sub-representadas – são as ligadas à ciência, à tecnologia, à engenharia (só há uma participação de 11% de mulheres!) e à matemática. Estes novos dados mostram a necessidade de recrutar e promover as mulheres nestes setores. Muitas das grandes empresas da área da tecnologia já estão a ir às universidades e incentivar as mulheres em cursos mais tecnológicos. Mas o trabalho tem de começar ainda mais atrás, logo nos jardins-de-infância, promovendo a tecnologia junto das meninas. Há que mudar mentalidades – o mais difícil de tudo.
Pat Milligan não se cansou de realçar o impacto que a paridade de género tem no desenvolvimento das empresas e dos países. Aumentar a diversidade a nível de liderança é um fator de crescimento do PIB nacional. Tal já o provaram cinco grandes países: Japão, Alemanha, Canadá, EUA e Brasil. E quando se fala em diversidade abrange-se todo o espectro: género, cultura, religião, idade.
Há que mudar muitos paradigmas. Há que implementar novas leis que são importantes para ajudar a mudar mentalidades. Há empresas que dão bons exemplos. Dois dos maiores fundos americanos de pensões só investem atualmente em empresas que apresentem a maior diversidade.
A vida como a conhecemos está a mudar. As novas gerações têm de pegar seriamente no tema da diversidade para se retroceder. Temos de continuar a andar para a frente.



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