A Leoa I
I
Quem diria que uma jovem tão calma, tão dedicada, fosse uma verdadeira leoa, capaz de pôr de fora as suas garras e defender o seu leão com unhas e dentes? Quem diria! E no entanto ela foi capaz disso e de muito mais.
Pensando bem, ela era mesmo uma leoa. As suas raízes africanas vinham agora ao de cima. África, leões, forças inimagináveis.
Luísa nascera em África, naquela imensidão sem fim, que só de olhar nos enche a alma. Era a segunda filha dum casal moderno e muito, muito forte. Tanto o pai, militar de profissão como a mãe, que, apesar de ser uma simples dona de casa, tinha a força... duma leoa. Fora aos 24 anos para o mato africano, longe de tudo e de todos. Laura era uma citadina nata, que detestava a incivilização do campo. E, no entanto, por amor, prescindira à sua Lisboa querida e ao seu emprego, metera-se num paquete e rumara para África para junto do homem por quem se apaixonara. A casinha onde vivia lembrava a casinha que as crianças desenham na escola com uma árvore ao lado e uma rua que começa, bem larga, na ponta da folha, e termina, bem estreitinha, junto à porta da casa. Era linda... só que não tinha luz eléctrica nem água corrente e ficava no meio do mato! Laura não se importou e, graças às suas mãos de fadas, foi-a transformando numa confortável casa. O nascimento da filha mais velha, Natália, veio-lhe ocupar verdadeiramente os dias... e fazer-lhe companhia nas longas noites africanas. Apesar de ter sempre um criado à sua porta, para o que desse e viesse, Laura tinha um medo profundo na sua alma, um medo do desconhecido, um medo do mato, até um medo dos africanos que, para ela, eram quase como selvagens. Sendo uma mulher muito forte, a ninguém mostrava esses medos. Mostrava-se uma mulher forte e feliz na sua casinha no meio do mato. Daí que o nascimento de Natália tenha sido para ela uma factor de duplo regozijo: o primeiro rebento fruto duma união baseada “no amor e no respeito”, como ela sempre dizia, e uma companhia para os dias e as noites no mato.
Passados três anos, João e Laura entendem que Natália não pode crescer como filha única e decidem-se por mais um filho. Aquele sábado de Janeiro corria quente e preguiçoso. João e Laura passaram com amigos o dia na praia.
Ao regressar a casa, rebentaram as águas à Laura. João sabe que esse é o sinal para ir para a maternidade. Chama o leal ajudante e pede que lhe arranje um carro para levar a senhora. Disponível, ali naquela zona do mato, a uns quantos quilómetros da cidade, só há um camião – e é num camião de caixa aberta que Laura vai para o hospital. Lá chegada dá de caras com o médico amigo com quem tinha estado na praia:
Então, ainda há pouco tempo estava na praia e agora já está aqui?
É verdade, senhor doutor.
Mas não me disse nada, que o nascimento estava para breve...
Para quê incomodá-lo na praia? – Retorquiu Laura, sempre forte. – Ainda faltavam muitas horas para o parto, ninguém precisava de saber o que se estava a passar comigo.
Nasce assim Luísa, e ninguém diria que aquela bebezinha tão calma, tão pachorrenta se viria a tornar numa verdadeira leoa..
A história passa-se no hemisfério Sul, onde as estações do ano são contrárias às nossas, ou seja, quando aqui temos Verão, lá temos Inverno, e quando aqui trememos de frio, os moçambicanos morrem de calor.
Quem diria que uma jovem tão calma, tão dedicada, fosse uma verdadeira leoa, capaz de pôr de fora as suas garras e defender o seu leão com unhas e dentes? Quem diria! E no entanto ela foi capaz disso e de muito mais.
Pensando bem, ela era mesmo uma leoa. As suas raízes africanas vinham agora ao de cima. África, leões, forças inimagináveis.
Luísa nascera em África, naquela imensidão sem fim, que só de olhar nos enche a alma. Era a segunda filha dum casal moderno e muito, muito forte. Tanto o pai, militar de profissão como a mãe, que, apesar de ser uma simples dona de casa, tinha a força... duma leoa. Fora aos 24 anos para o mato africano, longe de tudo e de todos. Laura era uma citadina nata, que detestava a incivilização do campo. E, no entanto, por amor, prescindira à sua Lisboa querida e ao seu emprego, metera-se num paquete e rumara para África para junto do homem por quem se apaixonara. A casinha onde vivia lembrava a casinha que as crianças desenham na escola com uma árvore ao lado e uma rua que começa, bem larga, na ponta da folha, e termina, bem estreitinha, junto à porta da casa. Era linda... só que não tinha luz eléctrica nem água corrente e ficava no meio do mato! Laura não se importou e, graças às suas mãos de fadas, foi-a transformando numa confortável casa. O nascimento da filha mais velha, Natália, veio-lhe ocupar verdadeiramente os dias... e fazer-lhe companhia nas longas noites africanas. Apesar de ter sempre um criado à sua porta, para o que desse e viesse, Laura tinha um medo profundo na sua alma, um medo do desconhecido, um medo do mato, até um medo dos africanos que, para ela, eram quase como selvagens. Sendo uma mulher muito forte, a ninguém mostrava esses medos. Mostrava-se uma mulher forte e feliz na sua casinha no meio do mato. Daí que o nascimento de Natália tenha sido para ela uma factor de duplo regozijo: o primeiro rebento fruto duma união baseada “no amor e no respeito”, como ela sempre dizia, e uma companhia para os dias e as noites no mato.
Passados três anos, João e Laura entendem que Natália não pode crescer como filha única e decidem-se por mais um filho. Aquele sábado de Janeiro corria quente e preguiçoso. João e Laura passaram com amigos o dia na praia.
Ao regressar a casa, rebentaram as águas à Laura. João sabe que esse é o sinal para ir para a maternidade. Chama o leal ajudante e pede que lhe arranje um carro para levar a senhora. Disponível, ali naquela zona do mato, a uns quantos quilómetros da cidade, só há um camião – e é num camião de caixa aberta que Laura vai para o hospital. Lá chegada dá de caras com o médico amigo com quem tinha estado na praia:
Então, ainda há pouco tempo estava na praia e agora já está aqui?
É verdade, senhor doutor.
Mas não me disse nada, que o nascimento estava para breve...
Para quê incomodá-lo na praia? – Retorquiu Laura, sempre forte. – Ainda faltavam muitas horas para o parto, ninguém precisava de saber o que se estava a passar comigo.
Nasce assim Luísa, e ninguém diria que aquela bebezinha tão calma, tão pachorrenta se viria a tornar numa verdadeira leoa..
A história passa-se no hemisfério Sul, onde as estações do ano são contrárias às nossas, ou seja, quando aqui temos Verão, lá temos Inverno, e quando aqui trememos de frio, os moçambicanos morrem de calor.
4 Comments:
Hm...strangely familiar setting. :) Muito bem escrito. Mais! :)
Já seguiu hoje outro capítulo
A fazer uma pesquisa do meu nome, descobri um post seu, de 2005, em que criticava um artigo meu escrito para a revista Azul. Resolvi escrever-lhe porque, afinal de contas, tinha razão na crítica que fazia...mas acredite que não foi consciente escrever "homens de negócio", não foi com uma intenção machista...e também foi algo que escapou à editora.
De qualquer forma, continuei a ler o seu blog e vejo que deve ter alguma relação com Moçambique. Pois bem, eu sou Moçambicana. Vivi 8 anos em Portugal, onde estudei e trabalhei mas há já 3 anos regressei ao único sítio no mundo a que chamo casa: Maputo.
Agradável coincidência não?
Engraçado, Soraia, como os nossos caminhos se cruzaram de novo.
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