sexta-feira, abril 27, 2012

É pela boca que morre o peixe. É pela linguagem que se discrimina


Inconscientemente os meios de comunicação social - e muitas vezes, nós mesmos - vamos enviando mensagens racistas e sexistas. Mesmo nos afirmando não-racistas, continuamos a sê-lo na nossa linguagem. Há tempos, na rádio, dizia a jornalista: "Hillary Shawk ganhou o óscar de melhor atriz (...) e o ator negro Morgan Freeman o de melhor ator secundário". Ficámos a saber a cor da pela de Morgan Freeman, mas qual é a cor da pele de Hillary Shawk? É importante referir a cor de pele de Morgan Freeman? Logo a seguir, o apresentador do programa João Almeida passa uma ária duma "soprano negra que vive em Paris". Será que as sopranos negras cantam melhor ou pior do que as sopranos brancas? Qual a necessidade de realçar a cor da pele das pessoas de quem falamos? Interessante é verificar que nunca se diz a cor de pele quando alguém é de raça branca. É ou não racismo?


Tal como o racismo, o machismo continua presente nos nossos meios de comunicação, mesmo naqueles que veiculam opiniões institucionais de empresas que se querem retas e que dizem não fazer discriminações sexuais. Enquanto esperava para ser atendida no banco, folheei uma revista para clientes desse banco. Um artigo sobre um hotel. Leio que os serviços do dito hotel "... servem os anseios de qualquer homem de negócios". Interessante! Então esse hotel é para homens? Tomei nota. Nunca lá reservarei um quarto e aconselharei as minhas amigas, mulheres de negócios a não irem para esse hotel que só vai ao encontro dos anseios dos homens...

Outro exemplo. Os meios de comunicação portugueses insistem nesse costume bem típico de escreverem "homens" quando falam de exército, bombeiros, até governo. No semanário EXPRESSO li que o general McChrystal "acompanha muitas vezes os seus homens em missão". Homens? O exército americano é formado por homens e MULHERES há já algumas décadas. E que estão ambos, lado a lado, no terreno. Porque não dizer “militares” ou “elementos das forças armadas” ou “operacionais”? Há tantas maneiras mas os meios de comunicação descaem sempre para os “homens”. E assim, mesmo jornais de referência vão continuando a passar mensagens subliminares de discriminação das mulheres. É nas entrelinhas que continuamos a passar mensagens inconscientes e a tradição machista vai continuando a ser alimentada.


Há muitos anos ouvi a frase “Wir werden nicht als Mädchen geboren, wir werden dazu gemacht” (Não nascemos meninas, somos feitas para ser meninas) e é verdade. No dia a dia, nas mentes da maioria das pessoas não existe a igualdade do género. Ainda hoje em dia, jovens pais insistem em comprar cor-de-rosa para meninas e azul para meninos. Dão bonecas às meninas e carrinhos aos meninos. É altura de olharmos a realidade com os olhos bem abertos. E abrirmos a mente e começarmos a retirar os preconceitos do nosso quotidiano.


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sexta-feira, abril 13, 2012

Incongruências III

O jantar decorria animado. Chegou a sobremesa. Na mesa estavam um delicioso pudim conventual e uma salada de frutas tropicais. Selma delicia-se com um bom bocado do pudim. De comer e chorar por mais. Laura explica a receita; 500 g de açúcar, 15 gemas… Uhm! Um delícia!
- Quem quer salada de fruta? Pergunta. – Selma, passa a tacinha.
-Nem pensar. Já comi muito.
- Mas é só uma salada de frutas. Com muitas vitaminas…
Selma atalha:
- E cheia de açúcar.
- Não, - esclarece Laura. – Não pus açúcar.
- E esqueces o açúcar das frutas. Não, não quero, obrigada.
Laura fica de boca aberta, com a colher de servir suspensa na mão. Será que tinha ouvido bem? Não come salada de frutas por causa do açúcar das frutas, mas come o doce conventual? Bem,….

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