sábado, novembro 26, 2011

Lealdade

Prezo a lealdade e a frontalidade, em parte dois sentimentos que se complementam. Nada pior do que esconderijos, comportamentos de fachada.
Na nossa vida, os caminhos têm de ser rectos, não pode haver esqueletos nos armários. Porque ao termos duas fazes, estamos a mentir a alguma delas. Ou às duas. A mentira é um dos sentimentos mais vis que conheço. Arrasa com a amizade, com a fraternidade, com a irmandade. Não permite que se construa um futuro sólido, com os pés bem assentes na terra, com bons fundamentos, Toda a vida fica-se coxo. Não sendo verdadeiros connosco mesmo, nunca o seremos para os outros. E como amor com amor se paga, a deslealdade volta de ricochete. E ninguém gosta de ser enganado.

Etiquetas: , ,

"Misunderstandings"

As interpretações erróneas dos nossos actos deixam-nos sempre baralhados, com um sentimento de impotência e de (quase) orfandade. Empenharmo-nos e esforçarmo-nos a fazer algo, regozijando-nos de antemão com a alegria que pensamos que vamos dar e depois afinal verificarmos que não só nada foi notado como nem sequer apreciado, é um verdadeiro murro no estômago. Uma desilusão. Todo o esforço em vão. Toda a alegria antecipada de rastos. Todo a energia anímica perdida. Ficamos como que perante um recipiente de barro partido em cacos aos nossos pés.

quarta-feira, novembro 09, 2011

O rapto da saloia

O plano fora arquitectado rapidamente. O membro mais novo da casa real luso-alemã engendrara bem o rapto. Atrairia a jovem inocente a um descampado na lezíria e pois levá-la-ia para os templários que a esconderiam e onde nunca mais seria encontrada.
No dia aprazado, os três conjurados montaram os seus 150 cavalos e partiram suavemente, deslizando ao som dos blues. No caminho, foram-se cruzando com outros
viajantes. Parecia que os citadinos tinham aproveitado a nesga de sol que aparecera no céu plúmbeo para expressarem a sua liberdade e saírem das suas tocas.
Pararam os cavalos no descampado rodeado de tendas altíssimas, não longe do mercado. Acompanhada pelo pai, a jovem inocente surgiu com um sorriso nos lábios. Tinha passado a tarde a tentar cristianizar almas infantis ingénuas. Era bom ter agora um ombro onde descansar – pensava ela enquanto se despedia do progenitor. Os cavalos voltaram à carga e partiram serra acima, vale abaixo, deixando para trás vilas, cidades, aldeias, rios e montanhas.
Já escurecia quando chegaram à terra de Gualdim Pais, o companheiro de lutas do pai da portugalidade. Pararam os cavalos junto do caravanserai dos templários. As suas celas davam para o lindo castelo.


Depois de se exercitarem para terem forças para o futuro e de fazerem as ablações necessárias no hamam de águas quentes e gélidas, saíram do caravanserai para irem ingerir as calorias perdidas no esforço físico.
Mas o espírito também tinha de ser alimentado. Primeira paragem, em frente da Igreja de São Gregório, construção quinhentista, com alpendre a toda a volta, com dez colunas.

Até chegarem ao Bela Vista, passaram por outras belas vistas, como a levada com a roda de água, o lago com patinhos quá-quá, Fernando Lopes Graça
http://www.youtube.com/watch?v=1t6PXF95jx8&feature=related , natural de Tomar, ali sentado à beira do rio Nabão desde Abril de 2009 conversando animadamente com com “Nini” Ferreira, seu amigo de sempre, a trocarem impressões e a debaterem a actualidade. Como em vida tantas vezes fizeram.

O repasto, bem português ou como classificar a cabidela de galinha?, foi bom. O descanso nocturno também.
De manhã, o castelo lá continuava firme no cimo do monte. Em 1159, quando Dom Gualdim Pais, companheiro de armas de D. Afonso Henriques, era mestre provincial da Ordem do Templo em Portugal, foi atribuído à Ordem do Templo o Castelo de Ceras, perto de Tomar, com terras que iam do Mondego ao Tejo. Como o castelo estava em ruínas, Gualdim Pais mandou então construir uma nova fortificação em Tomar, cujos trabalhos começaram a 1 de Março de 1160. Tinha por finalidade ser a sede da Ordem do Templo em Portugal e consolidar a posse de territórios reconquistados mas não seguros.
O castelo de Tomar foi então construído tendo em consideração as técnicas arquitectónicas militares mais avançadas para a época, ou seja, duas cintas de muralhas, torres redondas e cubelos. O coração da fortaleza, a alcáçova, com a torre de menagem, foi construído a Oriente; o lugar místico, a igreja octogonal templária, foi construída a Ocidente.


Contudo, o plano do rapto já tinha morrido. Agora engendrava-se o plano da visita à cidade, que se enfeita de plantas e flores para saudar os santos em Novembro. Situada nas margens do Rio Nabão, Tomar já era conhecida no tempo dos romanos (com o nome de Nabantia) que aqui tinham um acampamento, sendo mais tarde aproveitado para localidade moura.
Durante a reconquista e especialmente com a tomada do castelo de Santarém, o rei D. Afonso Henriques dá, em 1159, aos cavaleiros Templários o Castelo de Ceras, junto ao Nabão, como prova do seu reconhecimento pela ajuda prestada. Um ano depois, foi iniciada a construção da igreja de Santa Maria do Olival, a mãe de todas as igrejas dos templários em Portugal. Esta igreja, transformada em 1540 passando a ter um estilo gótico, encontra-se actualmente quase fora de portas; da igreja original resta a entrada e a rosácea.

No século XV, viviam muitos judeus em Tomar, como aliás no resto do país. Normalmente, viviam em bairros próprios, as judiarias, sendo muitos deles fechados com correntes ao cair da noite. Para celebrar os seus cultos, estes judeus tinham uma sinagoga, mandada erigir pelo
Infante D. Henrique no segundo terço do século XV. Desta sinagoga resta, exteriormente, o portal ogival lateral. Interiormente os capitéis apresentam rica decoração geométrica e os cantos do templo conservam ainda, as bilhas de cerâmica voltadas ao contrário fornecendo uma
boa acústica.
Em 1496, a sinagoga foi encerrada pelo édito de expulsão dos Judeus de Portugal, tendo sido mais tarde transformada em cadeia municipal e, depois, em armazém. No primeiro quartel do século XX, o edifício é comprado, restaurado e ampliado. É actualmente um museu judaico
dedicado a Abraham Zacuto, um grande astrónomo e matemático do século XV.


No caminho de regresso ao lar, doce lar, passaram pelo Aqueduto de Pegões. Para fazer chegar água ao Convento, foi construído, entre 1593 e 1614, um aqueduto de 6 km de comprimento, que reúne a água de quatro nascentes. É constituído por um total de 180 arcos, formado em alguns troços por duas filas sobrepostas, terminando num tanque de rega. Em 1617 foi prolongado até aos lavabos dos dormitórios e, em 1619, até ao Claustro D. João III. Cada rei que se segue até ao século XVIII faz as suas alterações, deixando marcas de diversos estilos: românico, gótico, manuelino, joanino, maneirismo e barroco.


Regressaram à lezíria. E a jovem foi entregue aos pais.

segunda-feira, novembro 07, 2011

ERICH KÄSTNER - O ESCRITOR DA NOSSA INFÂNCIA

Quem não leu em criança “Emílio e os detectives” de Erich Kästner? No entanto, Erich Kästner também é autor de poesias eróticas e de poemas políticos muito amargos que lhe valeu ser banido durante o III Reich.

Erich Kästner foi um homem que viveu sempre triste, profundamente triste – como pôde escrever histórias infantis tão alegres como a já referida “Emílio e os detectives” (Emil und die Dektetive) ou “As gémeas” (Doppelte Lottchen), que já serviu de base a tantos e tantos filmes, o último dos quais passou há pouco tempo nas nossas salas de cinema com o título “Pai para mim, mãe para ti?
Quem conheceu Erich Kästner ficava invariavelmente contagiado com essa tristeza que vinha do fundo da alma. O ambiente político não ajudava, mas a sua melancolia era visceral e quase genética.

“Sou como uma árvore”
Kästner nasceu a 23 de Fevereiro de 1899 em Dresden, um cidade com uma tradição cultural muito forte. A mãe era costureira e o pai chefe duma cavalariça.
Aos vinte anos, termina a licenciatura em Germanística, História, Ciência Teatral e Filosofia. A sua formação humanística e alemã tem aqui os seus fundamentos.
Erich Kastner era alemão do fundo do coração. Apesar de criticar ferozmente a situação política, nunca deixou de se sentir alemão: “Eu sou um alemão de Dresden, na Saxónia. / Não abandono a pátria./ Eu sou como uma árvore que cresceu na Alemanha./ Se for necessário, morrerei na Alemanha”.
Em 1929, publica o seu primeiro livro: “Emílio e os Detectives”, uma história infantil cheia de aventuras, onde introduz na literatura alemã o realismo social. Entretanto vai redigindo poesias eróticas, sátiras mordazes e poemas políticos muito amargos. Não se comforma com o ambiente político que se vive no seu país. Os nazis tomam o poder em 1933, ano é que preso pela Gestapo e em que os seus livros – por essa altura já tinha publicado mais obras – são queimados juntamente com os livros de todos os autores não gratos ao regime nacional-socialista.

Mesmo proibido, continua a publicar
O episódio da queima dos livros e a sua prisão pela Gestapo não o impedem de continuar a escrever poemas humorísticos, irónicos e sarcásticos contra a falsa moralidade, o militarismo e o fascismo. Goebbels fecha os olhos a este facto e, sob um pseudónimo, Kästner escreve o argumento do filme “Münchhausen – as incríveis aventuras do imortal barão mentiroso”, produzido em 1942. É este o facto que leva a grandes discussões entre os alemães depois da guerra. Afinal, era Kästner colaboracionista? A polémica continua até hoje.
Com o final da guerra, Kästner funda a revista Novo Jornal. Mesmo apesar das dúvidas que pairam sobre o seu passado, Kästner continua a incomodar tudo e todos. Em 1965, lança uma grande acção contra a guerra do Vietname e contra o arquivo dos crimes de guerra.

Grande amor pela mãe
A mãe foi sempre um ídolo para Kästner, a quem se sentiu ligado toda a vida. Aproveita todas as ocasiões para lhe agradecer não só a educação que lhe deu, mas também a possibilidade de estudar e de se formar.
No entanto, este amor não lhe perturbou a sua relação com as mulheres. Teve um número sem fim de paixões. Admirava a mente e a decisão das mulheres. E nunma época em que ainda não se falava de feminismo, Kästner era um grande defensor dos direirtos da mulher. Talvez esta sua paixão se devesse ao facto de Kästner sempre se ter dedicado a defender os mais desprotegidos: “E quando a guerra seguinte começou / as mulheres disseram: Não / e fecharam-se em casa / com os irmãos, filhos e maridos. / Depois andaram por todo o país / ... / levavam paus nas mãos / e tiraram muitos homens das suas casas. / Deitaram-nos sobre os joelhos / a esses que decretaram a guerra: / os donos dos bancos e da indústria / o ministro e o general./ Muitos paus partiram-se ao meio / ... / Em todos os países houve gritos / e nunca mais houve guerra”.
A 29 de Julho de 1974, Erich Kästner morre em Munique.

QUINTA DE SANT’ANA – HISTÓRIA E VINHOS

Há quem se agarre à maternidade e não consiga avançar na carreira. Há quem se agarre à carreira e não avance para a maternidade. Ann Frost é uma verdadeira matriarca da família, aquelas figuras da madonas italianas… só que com um ar franzino. Mãe de sete rapazes com idades entre os 21 anos e os 9 meses, Ann sempre arregaçou as mangas no trabalho da quinta. Vê-se rebelde – e perante esta realidade nós mesmo o confirmamos. É a alma da quinta. Era ainda criança quando a família von Fürstenberg veio para o nosso país, mais propriamente para a Quinta de Sant'Ana, tendo regressado à Alemanha após o 25 de Abril.
O coração de Ann batia – e ainda bate - para as artes. Tirou um curso de cerâmica, estudou arte em Florença e um curso de design gráfico em Münster. E foi aí que conheceu James Frost, oriundo de uma secular família de apaixonados agricultores, do sul de Inglaterra, com quem resolveu partilhar a vida – e ambos embrenharam na grande aventura de fazer renascer a Quinta de Sant’Ana.
Sabemos que a união faz a força. Juntos, com muita imaginação, entusiasmo e criatividade, Ann e James voltaram a dar vida à Quinta de Sant’Ana, em Gradil, perto da Malveira, no coração da Estremadura, uma propriedade que confina diretamente com a Tapada de Mafra. Com muito terreno e uma história de amor.
Conta a lenda que esta quinta foi oferecida pelo Rei D. Carlos a uma famosa cantora da época, Rosa Damasceno, por quem se havia apaixonado. Rosa Dasceno nasceu no Porto em 1849, filha de pai militar: Quando este faleceu, a mãe veio com a filha para o Alentejo. Rosa Damasceno entrou corno actriz numa companhia ambulante, dirigida por um antigo actor e empresário, chamado Lopes. Agradou a Marcolino Pinto Ribeiro, antigo actor do teatro de D. Maria II, que a aconselhou a vir para Lisboa. A sua carreira tornou-se gloriosa, recebendo grandes aplausos do público e tornando-se uma das actrizes predilectas da época – predilectas do público e do rei, apesar de Rosa Damasceno estar casada com o actor Eduardo Brazão. Mas isto são outras histórias…
Voltemos à Quinta de Sant’Ana. Com os seus 9 hectares de vinhas, 20 hectares de mata, 12 hectares de pomares e prados selvagens e deambulando entre o “cultivado“ e o “selvagem“, produz atualmente vinho e árvores de fruto (citrinos, oliveiras, pessegueiros e nogueiras), além de mimar os seus visitantes quer no restaurante quer nos quartos do turismo rural.
Mafra tem um microclima único com verões de noites frescas, neblinas matinais e tardes quentes e invernos amenos com temperaturas que oscilam entre os 20ºC e os 0ºC, com algumas geadas nocturna. Encontrando-se entre os 100 e 130 metros acima do nível do mar e com uma grande variedade de tipos de solos, desde subsolos pesados, profundos, de tom barrento, nalgumas zonas, a barro arenoso e cascalho fino nas camadas mais profundas noutras e ainda solos argilosos mais pobres, pouco profundos, frequentemente ferruginosos ou calcários, com areia grossa e saibro nas encostas mais íngremes, o vinho reflete toda esta diversidade.
Na Quinta de Sat’Ana, tudo se faz ao ritmo da Natureza. Os anos de experiência e o conhecimento dos processos da natureza ensinaram James a parar, a observar e a estar sempre atento. A vindima só se faz quando as uvas atingem o grau de maturação perfeito. A escolha é manual e os cachos são colocados com amor e carinho em caixas pequenas.
Ao chegar à adega, os cachos são cuidadosamente verificados e prensados. O controlo da temperatura é particularmente importante nesta fase. O processo de fermentação dos vinhos tintos é lento. A seguir, o vinho é amadurecido, pelo menos durante 12 meses, em barricas francesas novas de 225 litros. Quanto aos brancos, estes são fermentados a baixas temperaturas, em parte na grande pipa de madeira e, em parte, em tanques de aço inoxidável. A estabilização é feita em aço inox.
Deste amor pela uva, nascem vinhos fantásticos e “atrevidos” como o Verdelho, o Alvarinho, o Riesling, o Quinta de Sant`Ana Tinto (78% Touriga Nacional, 17% Merlot, 4% Aragonez), o Fernão Pires, o Rosé (40% Touriga Nacional, 20% Aragonez, 25% Merlot, 15% Pinot Noir), o Baron Gustav von Fürstenberg (50% Merlot, 50% Touriga Nacional), Reserva Tinto (60% Touriga Nacional, 40% Aragonez) e o Sauvignon Blanc.