terça-feira, junho 26, 2012

Resumo do colóquio “A Compaixão que nos une” com Abdool Karim Vakil , Joshua Ruah e Isabel Bento

A 19 de Junho, o Centro de Reflexão Cristã convidou para um colóquio dedicado ao tema “A Compaixão que nos une” onde intervieram em nome das respetivas fés Abdool Karim Vakil (muçulmana), Joshua Ruah (judaica) e Isabel Bento (cristã). Este colóquio integrou-se no ciclo “A Palavra de Deus – A Bíblia e o Diálogo entre Religiões” .

Isabel Bento, da Comunidade de Santo Egídio (Igreja Católica), foi a primeira a falar e apresentar o que significa compaixão para as igrejas cristãs. A compaixão pelo outro, ficar ao lado do outro que necessita de nós sem olhar à raça, ao género, à religião. Levar à letra os ensinamentos de Jesus: 35Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, 36estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.’ 37Então, os justos vão responder-lhe: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? 38Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? 39E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?’ 40E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: ‘Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.’ 41Em seguida dirá aos da esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e para os seus anjos! 42Porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, 43era peregrino e não me recolhestes, estava nu e não me vestistes, doente e na prisão e não fostes visitar-me.’ 44Por sua vez, eles perguntarão: ‘Quando foi que te vimos com fome, ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou doente, ou na prisão, e não te socorremos?’ 45Ele responderá, então: ‘Em verdade vos digo: Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.’ (Mateus 25, 35- 45)






Abdool Vakil retomou o projeto de há uns anos da Carta da Compaixão, um documento elaborado por personalidades religiosas de praticamente todo o mundo, baseada numa ideia lançada por Karen Armstrong, uma ex-freira católica que se tem dedicado ao estudo das religiões monoteístas. Em Portugal, o ponto alto das celebrações da Semana da Compaixão em 2009 foi uma cerimónia que reuniu ateus, agnósticos e representantes das várias religiões e credos. Ao longo da semana, nos templos das várias confissões religiosas, desde católicos a hindus, passando por budistas, muçulmanos, baha'is, ismaelitas e judeus, foram feitas homilias, sermões e alocuções em que o tema central foi a compaixão.


Abdool Vakil iniciou a sua intervenção dando a paz com expressões das três religiões do Livro:
Bismillah- hir-Rahman-I- Rahim, Em Nome de Deus o Misericordioso o Misericordiador.
Shalom,
Pax,
Oom,
Assalamo Aleikum,
Que a Paz de Deus esteja convosco


Abdool Vakil integra o Fórum Abraâmico de Portugal http://www.forumabraamico.eu.org/ , uma associação criada por membros das comunidades Judaica, Cristã e Islâmica, em Lisboa, filiada no Three Faiths Forum, em Inglaterra, e a European Muslim Network http://www.euro-muslims.eu/ , um grupo de reflexão a nível europeu que aderiu à iniciativa lançada por Karen Armstrong e que contou igualmente com o patrocínio do Dalai Lama. A compaixão é um sentimento que nos eu a todos, com ou sem religião. Há pessoas que não acreditam em Deus ou têm dúvidas sobre a existência de Deus, mas acreditam na compaixão. É preciso desmistificar o termo compaixão, pois a palavra inglesa 'compassion' não significa dó ou pena do outro. Compaixão, na feliz expressão do teólogo católico Leonardo Boff, é a capacidade de sair do seu eu e ir para o outro; tentar sentir o que o outro pode sentir de alegria ou de tristeza, compartilhar o sentimento negativo ou positivo do outro e compreendê-lo. Vakil falou dum hadith ou ensinamento do Profeta Maomé, semelhante aliás ao Evangelho Segundo São Mateus: "Deus, no Dia do Juízo Final, dirá : Ó filho de Adão, Eu adoeci e tu não me visitaste. O homem responderá; Senhor Meu, como podia eu visitar-Te se És o Senhor do Universo? Deus diz-lhe então: Não soubeste que aquele meu servo adoeceu e não o visitaste? Acaso não sabes que se o tivesses visitado ter-Me-ias encontrado a seu lado?”


A compaixão pode resumir-se a tratar os outros como queremos que me tratem a mim. A relação de Deus com o ser humano é de compaixão. Deus é benevolente, é ar-rahim, o que concede misericórdia. Deus é o Beneficente, o Todo Misericordioso o Misericordiador. A Paz que os princípios e a essência do Islão determinam é a paz interior da criatura que reconhece o seu Criador, e do ser humano que se relaciona com os outros a partir da interiorização dessa espiritualidade, desejando para o Outro o que deseja para si próprio; procurando a Justiça na relação com o Outro mesmo quando, ou até especialmente quando, contra si próprio.

Compaixão é um conjunto de emoções. Um compromisso de interajuda e de interação. Não é a simples palavra de consolo que oferecemos quando adivinhamos dor no olhar do outro, é acima de tudo parar e ouvir num compromisso de confiança e partilha que permite interagir com o sofrimento alheio transmitindo-lhe conforto e alivio e principalmente dizer-lhe que ele não está só.. É combater o ego, o eu, eu, eu e transformar em nós, nós, nós. Tal como disse o Profeta Isaías “transformemos as nossas espadas em charruas ou arados”, hoje apelemos às pessoas para que deixem as armas substituindo-as por Diálogo e Amor para com o Próximo, diminuindo ou mesmo abandonando o Ego, para que tenhamos um Mundo Melhor, aquele que Deus nos deu para nele vivermos em Paz e Harmonia não só entre os seres humanos mas também em harmonia com a Natureza de que somos Regentes e que tão mal temos vindo a cuidar.


Abdool Vakil terminou com uma oração ecuménica, abrangente na medida em que inclui todos independentemente das suas religiões e mesmo dos que não a têm crença alguma pois Deus diz no Alcorão que as suas Dádivas não serão negadas a ninguém:


Deus Nosso Senhor,

Louvado seja o Teu Nome para sempre.

Senhor, Tu és a fonte da vida e da paz;

Sabemos que Tu orientas as nossas mentes para pensamentos de Paz;

Ouve as nossas preces em tempos de crise;

O Teu Poder transforma os nossos corações;

Judeus, Cristãos e Muçulmanos, lembram-se e afirmam convictamente que seguem o mesmo Deus, que são Filhos de Abraão e por isso irmãos e irmãs;

Os outrora inimigos começam a dialogar entre si;

Aqueles que estavam em desavença, juntam as suas mãos em amizade e fraternidade;

Juntas, Nações anseiam por caminhos da Paz.

Que Deus, Nosso Senhor, fortaleça a nossa determinação para dar testemunho a estas verdades pela forma como vivemos. Fortifica a nossa determinação para evidenciar estas verdades através das nossas ações.




Joshua Ruah começou por dizer que era um mau praticante da religião judaica, que não cumpria todos os preceitos – ao que o Pe Carreiras Neves comentou “E ainda bem! Não queremos pessoas perfeitas!” . Abordou o tema do ponto de vista filosófico e – a compaixão não se resume às religiões, mas pertence à filosofia e à ética. O 1º exemplo de compaixão vem logo no início da Tora: quando Abraão desce do Monte Sinai com as Tábuas e vê o seu povo a adorar o Bezerro de Ouro, um grande pecado, para e pede ajuda a Deus, que perdoe o seu povo. Deus revelou a Moisés a sua intenção de destruir o povo judeu por estar a adorar o bezerro de ouro. Mas antes de aplicar seu castigo decisivo, o Omnipotente diz ao seu profeta: “Tenho observado este povo, e eis que é um povo obstinado. Agora, pois, deixa-Me; para que se acenda contra eles o Meu furor e Eu os aniquile; e de ti farei uma grande nação” (Êxodo 32: 9-10). E Deus ensina a Abraão o texto de uma prece que, no futuro, servirá para sempre invocar a sua misericórdia. Esta oração, os Treze Atributos da Misericórdia, contém treze descrições sobre Deus, todas acerca de a sua compaixão e bondade infinitas. Com esta invocação ninguém jamais deixa de merecer a Graça Divina.


Dalai Lama disse um dia que o único propósito das religiões é facilitar a vida, a compaixão, a tolerância, a paciência e a humildade.


Joshua Ruah discordou do diálogo inter-religioso nos moldes que tem sido praticado pois excluiu muitas religiões, os ateus e os agnósticos, ou seja, tem seguido uma linha discriminatória. O que realmente une todas as pessoas é a Carta Universal dos Direitos Humanos. A compaixão, um ato espontâneo, personalizado e individual, não é só pertença das instituições religiosas. Há que distinguir entre religião, relação de qualquer pessoa com um ser transcendente, e instituição religiosa, uma organização coletiva com finalidades diferentes, incluindo económicas, sociais, financeiras, políticas.


Em todas as religiões abraâmicas há facções, grupos, tendências que se digladiam entre si mesmo no campo teológico (e não só), mostrando pouca compaixão: tendências judaicas espiritualistas / cabalísticas vs. racionalistas, xiitas vs sunitas, ortodoxos vs católicos vs protestantes.


O Talmude resume o conceito de compaixão: respeito na igualdade do outro e amar o outro como se ama Deus. A nossa relação com o outro tem de ser igual à nossa relação face a face com Deus. Praticar a compaixão sem esperar recompensa Respeito pela justiça, pelo outro.


A palavra compaixão em hebraico deriva da palavra “útero”, o que significa que a compaixão é um sentimento tão profundo que vem do ventre, que sai de dentro, que é espontâneo. Temos o dever ético de olhar o outro como igual, respeita a dignidade de c ada pessoa humana. Cada um de nós deverá respeitar o outro somente porque ele é um outro ser humano.





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segunda-feira, junho 11, 2012

Machismo no Diário de Notícias


Exmo. Senhor Diretor do DN

Desculpe, mas não devo ter lido bem o título da notícia de capa, em letras garrafais: “GNR e PSP têm 1700 homens de prevenção para mesmas emergências”, do Diário Notícias de hoje. “Homens”? Devo andar enganada? Será que a GNR e a PSP não têm elementos femininos? OU que só os elementos masculinos vão estar de prevenção?

Por favor, deixem a linguagem machista!!!! Há mulheres nas forças de segurança! Escrevam “elementos”, “membros”, mas não digam “homens”. As mulheres são parte integrante das forças de segurança, do país, do mundo. Existimos e, quer os homens, leia-se, os seres do sexo masculino, queiram quer não queiram somos mais de metade da humanidade e contribuímos para a nossa sociedade. Não nos excluam! Somos! Existimos!



Cumprimentos

M.Margarida Pereira-Müller