segunda-feira, junho 28, 2010

Em Sintra, a Raça Cia. de Dança de São Paulo

Rapazes e raparigas jovens deslizavam suave e levemente pelo palco. Numa dança fluida e emocional, os corpos interpretavam músicas populares da América Latina, das quais sobressaía o tango. Com uma percepção bem distinta de abordar a dança, o palpitar de uma vitalidade de inteligência emocional, uma dança de fibra jovem, um coração forte e pulmões aeróbicos respirando as dinâmicas transitórias do universo urbano, os brasileiros mostraram-nos as “Cartas Brasileiras" (coreografia que partiu da recolha de cartas de diversas gerações) e um "Tango sob dois olhares" (com música de Astor Piazzolla). O Festival de Sintra trouxera até à bela vila de Sintra, o agrupamento paulista Raça Cia. de Dança que, em duas décadas de trabalho ininterrupto, passou por todas as provas, trânsito e estilos diversos, tendo ao longo dos anos uma proposta de trabalho que consegue sensibilizar e despertar unanimidade do público e da crítica.

Sentimos perto do estilo da Raça Cia. de Dança que fala uma linguagem universal, com uma técnica perfeita e precisa. "Tango sob dois olhares" recebeu em 2009 o 1.º Prémio Teatro de Dança de Melhor Espectáculo).

Sem cair nos lugares comuns, a Raça Cia. De Dança exala brasilidade. A sua directora e coreógrafa residente, Roseli Rodrigues, soube imprimir na Raça Cia. uma marca indelével, a vitalidade. Mas a dança da Raça não é de vitalidade apenas física; existe no corpo da Cia. paulista, e é com esta vitalidade que a “Raça” traduz a Dança do Brasil de hoje. Roseli Rodrigues inspirou-se na música “Raça” de Milton Nascimento para dar nome à companhia, que ganhou importância durante os anos de 1980 e se transformou referência na dança contemporânea.

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O EXPRESSO insiste

E mais uma vez, o EXPRESSO insistir nesse costume bem típico dos meios de comunicação portugueses de escreverem "homens" quando falam de exército, bombeiros, até governo. Na edição da semana passada, 19 de Junho, na página 34 do Caderno Principal, lê-se que o general McChrystal "acompanha muitas vezes os seus homens em missão". Homens? O exército americano é formados por homens e MULHERES há já algunas décadas. E que estão ambos, lado a lado, no terreno. Porque não dizer “militares” ou “elementos das forças armadas” ou “operacionais”? Há tantas maneiras mas o EXPRESSO descai sempre para os “homens”. E assim, o EXPRESSO, um jornal de referência, vai continuando a passar mensagens subliminares de discriminação das mulheres. É nas entrelinhas que continuamos a passar mensagens inconscientes e a tradição machista vai continuando a ser alimentada.

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quinta-feira, junho 24, 2010

Uma estrela em Sintra - Sokolov tocou no Festival de Sintra

As luzes apagaram-se no Auditório Jorge Sampaio do Centro Cultural Olga Cadaval. Ouviram-se passos no soalho de madeira. Grigory Sokolov entra no palco, senta-se e os dedos começam a deslizar suavemente pelas teclas do piano. Ali estava ele, só, no meio do palco. Ele e o piano de cauda preto, donde saíam sons claríssimos, límpidos, escorreitos. Sokolov tocava a Partita nº 2 em Dó menor, BKW 826 de Johann Sebastian Bach. Se bem que esta peça esteja incluída em meros exercícios para teclado (Clavierübungen), publicados entre 1726 e 1731, Sokolov leva-nos a um mundo elegante, romântico e feliz.
Segundo Cristina Fernandes, autora do texto do programa, nos séculos XVII e XVIII, o termo Partita tinha diversos significados, podendo designar uma suite de danças ou uma série de variações. A obra, de seis andamentos, começa com uma Sinfonia com os ritmos solenes pontuados e uma secção central rápida em escrita fugada. Segue-se quatro elegantes andamentos ao estilo. O último andamento é um Capriccio, vivo e tumultuoso, tocado brilhantemente por Sokolov.
Seguiram-se as Fantasias de Johannes Brahms, op. 116. Com uma escrita pianística mais densa, coloca grandes desafios ao executante, que Sokolov dominou com mestria. Depois do intervalo, Sokolov deliciou-nos com a Sonata para piano e Fá menor, op 14 de Robert Schumann, que Sokolov tocou na versão integral, ou seja, com cinco andamentos, e não na primeira versão publicada a que o editor de Schumann resolveu tirar os dois Scherzi, por achar que obra ficaria muito complexa.
O público acarinhou este grande pianista russo que, por sua vez, lhe ofereceu cinco encores (normal em Sokolov). De Chopin, Sokolov tocou o Prelude op 28 n 6, n 16, n 15 e n 24 e, finalmente, de Alexander Scriabin o Poème caresse dansée op 57 n 2

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Diário de Notícias continua a discrimar mulheres

Que pena o Diário de Notícias continuar a discriminar as mulheres. Na edição de anteontem, 23 de Junho, na página 43 , a jornalista Patrícia Viegas escreve sobre “ Obama furioso com chefe militar no Afeganistão”. A meio do texto refere "O militar que é responsável por 142 mil homens...". Que eu saiba o exército americano e de outros países da NATO é formado por homens e MULHERES há já várias décadas. E que vão para frentes de batalha –– homens e mulheres. Mas o DN parece que não conhece essa realidade. E lamento profundamente. Porquê então dizer “142 mil homens”?!!!! Porque não dizer “militares” ou “elementos das forças armadas” ou “operacionais”? Há tantas maneiras mas os meios de comunicação descaem sempre para os “homens”. E assim, o Diário de Notícias, um jornal de referência, vai continuando a passar mensagens subliminares de discriminação das mulheres. É nas entrelinhas que continuamos a passar mensagens inconscientes e a tradição machista vai continuando a ser alimentada.

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Discriminação feminina no EXPRESSO (inconsciente, espero eu)

Que pena o EXPRESSO discriminar (inconscientemente, espero eu) as mulheres. Na vossa edição da semana passada, 12 de Junho, na página 59 da revista ÚNICA , escreve-se em "Vigilância total": “ Mais de 200 mil homens..... ”. Desculpem: homens? Que eu saiba as forças de segurança e o exército sul-africano são formados por homens e MULHERES há já bastante tempo. Mas parece que o EXPRESSO não conhece essa realidade. E lamento profundamente. não dizer “ 200 mil militares” ou “elementos das forças de segurança ” ou “operacionais”? Há tantas maneiras mas os meios de comunicação descaem sempre para os “homens”.E assim, o EXPRESSO, um jornal de referência, vai continuando a passar mensagens subliminares de discriminação das mulheres. É nas entrelinhas que continuamos a passar mensagens inconscientes e a tradição machista vai continuando a ser alimentada.

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quarta-feira, junho 02, 2010

O meu Rock in Rio_2

Pois já Sérgio Godinho cantava “Mais uma corrida, mais uma viagem”. No caso do Rock in Rio é antes “mais um fim-de-semana, mais música rock”.
O segundo fim-de-semana do maior festival de rock em Portugal começou logo na 5ª feira… para saltar a 6ª e depois continuar no sábado e domingo. Mas começou muito bem. Ao final da tarde, verdadeiras caravanas de jovens adultos caminhavam em direcção ao Parque da bela Vista. Ao contrário do que tinha acontecido no 1º fim-de-semana, os bilhetes no mercado paralelo em frente à bilheteira praticamente não baixaram do preço oficial… É que os Muse atraíram 83000 pessoas, mantendo os preços em alta. 49% dos visitantes do dia 27 indicaram que tinham ido ao Rock in Rio por causa desta banda britânica que iniciou o seu concerto debaixo de fogo de artifício.
Ao começar o seu concerto com meia hora de atraso, Jorge Palma perdeu grande parte dos espectadores pois entretanto os Xutos começaram a cantar. E apesar de, nesse inquérito, somente 4% terem indicado que lá tinham ido por causa dos Xutos & Pontapés, o concerto desta banda portuguesa aqueceu a Cidade do Rock, tendo o público aderido à animação e cantado unanimemente “À minha maneira” e gritado bem alto que “Não era o único a olhar o céu”. Toda a gente pulou e cantou animada “A minha casinha” e “Para ti Maria” – na realidade, todo o alinhamento dos acarinhados Xutos que participaram no Rock in Rio pela 4ª vez, tantas quanto existe este festival..
Pela primeira vez em Portugal, os Snow Patrol aproveitaram o facto de terem chegado um dia mais cedo para conhecer Lisboa. Antes do concerto no Rock in Rio falaram das expectativas para o espectáculo, do que andam a fazer e como escolheram Rita Redshoes para subir com eles ao Palco Mundo.
E se sábado, 29 de Maio, foi o dia das criancinhas e dos adolescentes com a Hannah Montana, oh, perdão, a Miley Cyrus, que juntou 88000 pessoas, domingo, o dia do fecho, foi o dia da pesada, com os Rammstein, os Megadeth, Motörhead e os Soulfly. Os Rammstein são uma das bandas alemãs de maior sucesso no mundo e os seus concertos ao vivo aliam uma forte componente teatral a impressionantes efeitos visuais e pirotécnicos, que tornam as suas actuações cativantes para todos os tipos de público.
Para terminar mais uma edição do Rock in Rio, é bom não esquecer as preocupações sociais dos organizadores. O conceito "Rock in Rio Por um Mundo Melhor" foi criado na terceira edição do evento. Em 2001, Roberto Medina, apoiado nos resultados das duas primeiras edições do festival no Rio de Janeiro e consciente do potencial de comunicação do evento, viu nele uma grande oportunidade de mobilizar pessoas e ajudar a construir um MUNDO MELHOR.
Este ano, o Rock in Rio adoptou como temática o desenvolvimento sustentável. O conceito de desenvolvimento sustentável foi utilizado pela primeira vez em 1987 no Relatório de Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, na Assembleia das Nações Unidas. Tendo sido definido como “O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração actual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e económico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da Terra e preservando as espécies e os habitats naturais”. Esta definição mantém-se até hoje como a mais consensual. Ao longo da história os especialistas têm vindo a alertar para a importância duma actuação ao nível local para se atingir a sustentabilidade global. Na Cimeira do Rio, em 1992, foi feito um apelo às organizações locais para que desenvolvam um processo consultivo e consensual com as suas populações, de forma a promover a sustentabilidade das suas comunidades melhorando a sua qualidade de vida.

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O meu Rock in Rio 2010_1

A cidade do Rock, como o Parque da Bela Vista em Lisboa foi baptizado pelos responsáveis do Rock in Rio, uniu gerações e classes sociais. Durante algumas horas, os problemas e as divergências foram esquecidas, para se viver um clima de paz e amor, unidos pelo amor. Divergiam desta onda os ladrões desempregados num protesto contra a Prosegur, que lhes está a roubar os empregos.
Mas pondo de parte o entretimento, a Prosegur levou a sério a sua função de segurança. É que o elevado preço dos bilhetes pode levar muitos interessados a tentarem furar o cerco e tentar uma entrada à borla. Mas não há hipóteses. Na Cidade do Rock só entra quem paga: as quatro torres de vigia de público, com altura entre os 6 metros, lembram mais torres de prisão do que dum recinto de entretenimento…
Como os organizadores estão decididos em usar o maior espectáculo de rock numa acção em defesa do ambiente, as torres de vigia são feitas de madeira Carmo, de forma a respeitar a filosofia da “Cidade do Rock” e não interferir com o meio ambiente. Também nesta linha de actuação, o Rock in Rio plantou 15000 árvores na Tapada de Mafra para assim compensar a pegada carbónica do evento.
Mas vamos ao que interessa, ou seja, à música. O tempo convidava a festivais; a noite adivinhava-se quente, sem vento, lânguida a pedir festejos ao ar livre. Pontualmente às 19h do dia 21 de Maio, o primeiro dia do festival, Marisa começou o seu espectáculo no Palco do Mundo. Mas foi Ivete Sangalo quem levou ao rubro as 81000 pessoas que enchiam o enorme recinto do Rock in Rio e que se apinhavam para saborear a enérgica cantora brasileira. Bem, mas no meio da euforia generalizada, havia amores e desamores, encontros e desencontros. Enquanto uns cantavam com ela “Beija a minha boca louca”, aquele parzinho á nossa frente mantinha a sua mina ferrada, sem um esgar de felicidade. Desamores no meio de canções eróticas. E quando todos os outros à sua volta pulavam e pulavam e pulavam enquanto se deixavam contagiar pela agitação da brasileira, o parzinho parecia que tinha pés e pernas de chumbo e mantinham-se pregados ao chão, alheios às dezenas de milhares de pessoas que quase entravam em delírio.
John Mayer seguiu-se naquele palco. Muitos aproveitaram para ir dar uma volta, avançando com esforço pelo meio da multidão, tentando chegar às várias banquinhas montadas no Parque da Bela Vista e que ofereciam inutilidades divertidas: cabeleiras rosa choque, óculos às riscas, guitarras de plástico, t-shirts, chinelas, anéis luminosos e os já famosos sofás insufláveis.
Depois do fogo de artifício subiu ao palco Shakira que animou o público adolescente. O show da colombiana foi porém pior que o da brasileira: pausas de alguns minutos entre cada canção roubaram o ritmo que se pretende ininterrupto num concerto de rock.
No sábado, já com um friozinho típico duma noite de Maio, a festa continuou, mas muito mais calma. À Cidade do Rock “só” foram 41000 pessoas, mas que conseguiram gozar com todas as calmas não só a oferta das barraquinhas como os seus cantores e bandas. Rui Veloso e Maria Rita no Palco Sunset animaram os visitantes cuja média etária já era bastante mais elevada do que na véspera. Pelo Palco do Mundo, passaram João Pedro Pais e a romântica Leona Lewis. Às 22h em ponto, Elton John começa o seu concerto – pontualidade britânica, não fosse Sir Elton ser inglês. Elton John cumpriu o seu programa já sem as extravagâncias doutros tempos. Mas agradou e pôs toda a gente a cantar o seu Candle in the wind, o Love lies bleeding, entre muitos outros clássicos. Ainda embalados pela a Your song, gozámos o fogo de artifício. Seguiram-se os Trovante, e, para quem lá ficou até de madrugada, os DJs.
Bem redondos são os números do Rock in Rio: no primeiro fim-de-semana a Ibersol disponibilizou cerca de 130 mil unidades de águas, cervejas e refrigerantes; nos quatro bares do Licor Beirão foram vendidos 10 mil caipirões. A Home Energy distribuiu 50 mil anéis luminosos durante os primeiros dois dias do Rock in Rio-Lisboa e pintou mais de 30 mil caras com tintas fluorescentes. 700 pessoas escorregaram pelo slide frente ao palco do Mundo. 17 mil visitantes viajaram na Roda Gigante. 9.600 pessoas experimentaram o Downloader do SAPO e 7000 visitantes tentaram a sorte na Montanha Russa da Santa Casa.
O que nos espera no segundo fim-de-semana?

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Oferta em vez de abate de livros

Em Março passado, soubemos pela comunicação social que o Grupo Leya iria proceder ao abate de "dezenas de milhar de livros da autoria de Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, Eduardo Lourenço e Vasco Graça Moura, publicados pela ASA ao longo da última década".
Como grande leitora e autora, não pude deixar de ficar atormentada com esta notícia. Sei que foram razões puramente económicas que levaram a tal decisão. Mas porque não decidir de maneira diferente? Logo depois desta notícia ser conhecida, uma outra surgiu na comunicação social, bem mais positiva: o governo francês ofereceu mais de 300000 livros à Biblioteca de Alexandria http://www.bibalex.org/, que pretende voltar a ser o repositório da cultura da humanidade.
Ao visitar a Biblioteca de Alexandria no início do mês de Maio, pensei que muito melhor do que destruir é criar. Em vez de "abater" livros, porque não criar um núcleo de literaratura portuguesa na Biblioteca Alexandrina? Sei que possivelmente o argumento será novamente os custos. Porque não contactar o Ministério da Cultura e o Instituto Camões e numa acção de charme conjunta da Leya e do governo português oferecer essas dezenas de milhar de livros de grandes autores portugueses à Biblioteca Alexandrina? A nossa Embaixada no Cairo terá, tenho a certeza, todo o prazer em colaborar nessa acção.
E assim, em vez de destruir, teremos CONSTRUIR.

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