segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Medjumbe—já circumnadou uma ilha?
































A comunidade de Helgoland, uma pequena ilha alemã no Mar do Norte, organiza anualmente uma festa desportiva que se resume a nadar à volta da ilha. A ilha não é tão pequena assim e as águas do Mar do Norte são geladas. No entanto, sempre que lia no jornal a notícia sobre esse acontecimento desportivo ficava com vontade de participar. Um dia hei—de fazer, pensava eu ano a pós ano.
Pois este ano, circumnadei uma ilha. Não Helgoland, não no Mar do Norte, mas no Oceano Índico. Quando cheguei à pequena ilha Medjumbe, propriedade do Grupo Rani Resorts, pensei: É hoje o dia. Tomei essa decisão ainda no avião, ao sobrevoar a ilha . Ali estava ela, pequenina com os seus 18 hectares, 1000 metros de comprimento e 350 metros de largura, perdida no meio dum mar de corais, rodeada de águas azuis turquesas tão translúcidas que tudo o que estava no seu fundo se via do avião. E o banco de areia na sua ponta lembrava um longo véu de noiva.
Victor Fernandes, diretor-geral do Medjumbe Private Island Resort, recebeu-nos pessoalmente na pista. Num pequeno carro de golfe, levou-nos os poucos metros até à entrada do hotel onde nos esperava o resto da sua equipa. Foi-nos oferecido um pano húmido para nos refrescarmos, uma deliciosa espetada de fruta tropical e um colorido cocktail de fruta, uma especialidade do barman Adamo.

Medjumbe é uma das três dezenas de ilhas que pertencem ao arquipélago das Quirimbas e que estão espalhadas na costa do Norte de Moçambique, entre a baía de Pemba e o rio Rovuma.
O xeque saudita Adel Aujan, dono do Grupo Rani, deve também ter-se apaixonado por esta pérola, elegante com um rasto de areia no final. Comprou-a e em 2005 construiu um resort para férias exclusivas.12 chalés simples mas muito sofisticados foram plantados na praia de areia branca, suficientemente afastados uns dos outros para que os seus ocupantes não se sintam. Apesar de terem à sua frente todo o Oceano Índico com as suas cálidas águas (e quando digo que as águas são quentes é porque elas são mesmo quentes: 30º no verão, 25º no inverno), cada chalé tem ao lado uma pequena whirlpool privada.
Podem perguntar: mas o que se faz numa ilha tão pequena? Não se fica com ataques de claustrofobia? Não, a ilha é um mimo e os funcionários do resort tudo fazem para que o cliente se sinta bem, como em casa – ou melhor do que em casa. Quem vem para Medjumbe quer viver o sossego, quer relaxar, quer parar a corrida do dia a dia, quer deixar o tempo correr como a areia a escorrer por entre os dedos, calma e suavemente.
Pode nadar placidamente nas águas azuis turquesa que se esbatem à frente do seu chalé.
Pode passar umas horas deitado na rede, a ouvir os sons da praia vazia. Ou horas a fio a procurar conchas na praia de areia mais branca do que a farinha de trigo. E há conchas lindas, grandes e pequenas, brancas e coloridas, lisas e com ondinhas.
Pode fazer snorkeling e descobrir que há uma variedade inimaginável de feitios e cores de peixes. Pode ir à pesca de alto mar e pescar peixes enormes daqueles que pensa que só se veem nos filmes.
E claro, no spa, a sul-africana Daniella tem uma “ementa” de massagens para nos fazer renascer, que vão da simples massagem das costas às massagens com pedras quentes aos workshops de massagens para recém-casados, durante os quais ela os ensina as técnicas básicas de massagens para relaxar.
Querendo ainda mais privacidade, pode ir até Quissanga, a ilha vizinha, ainda mais pequena, inabitada, mas que já pertence também ao Grupo Rani. O hotel prepara-lhe o cesto de piquenique que inclui uma manta aos quadrados para pôr na areia, comida de fazer crescer água na boca e uma garrafa dum bom vinho.
À noite, pode deitar-se na areia e ficar a olhar o céu estrelado.

As Quirimbas
O arquipélago das Quirimbas é sem dúvida um dos segredos mais bem guardados de Moçambique - uma longa faixa de 250 km de ilhas tropicais onde se junta uma grande riqueza marítima com uma grande riqueza histórica.
Nas suas águas, os 1500 km² do Parque Nacional da Quirimbas dão abrigo a tartarugas, golfinhos e baleias assim como uma grande variedade de peixe.
Culturalmente, as Quirimbas são igualmente importantes, com a sua grande mistura de influências árabes, holandesas, portuguesas, chinesas e indianas, tendo conhecido grande importância nos séculos XVI, XVII e XVIII com o comércio de escravos.
Mas mesmo no paraíso, chega a hora de os despedirmos. Vamo-nos embora mas levamos para sempre no nosso coração esta pequena ilha que nos acalentou a alma.

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Ilha do Ibo, cruzamento de povos










































































Aproveitámos a nossa estada em Matemo para visitar a Ilha do Ibo. Connosco foi o guia, Júnior, que estava excecionalmente nessa semana também em Matemo a fazer uma formação para snorkeling. A viagem de barco demora somente 30 minutos e foi muito agradável cruzar as águas translúcidas.
Vista de longe, Ibo parece que ainda está como há muitos séculos, com a vida a ferver como quando no tempo em que era um grande entreposto de escravos. As casas alinham-se na costa e veem-se bem os fortes.
Ao chegarmos à ilha, saltamos do barco para a água e fazemos a pé os metros que faltam até terra firme. Um bar, agora em renovação, é o primeiro edifício que vimos. Com a saída dos portugueses após a independência de Moçambique em 1975 a ilha ficou parada — direi mesmo esquecida do poder central. Com os portugueses, saíram também os chineses e os indianos. Ficaram somente os verdadeiros habitantes da ilha. Aí procuraram refúgio algumas pessoas do continente que tentavam escapar aos horrores da guerra civil entre a Frelimo e a Renamo. De resto, nada mais aconteceu durante mais de duas décadas.
Como foi poupada à guerra, a ilha manteve-se tal e qual, só com os estragos feitos pelo tempo. Lembra uma casa de província que se deixou há muitos nos e que foi ganhando pó.
Júnior foi-nos contando a história da ilha que, sendo maioritariamente muçulmana, está com pouca vontade de aceitar a abertura da ilha ao turismo. Mas “água mole em pedra dura tanto dá até que fura”. Com a ajuda da US Aid, começaram a restaurar-se os monumentos e em 1998, abriu em Ibo o primeiro alojamento para turistas.
Ibo, que inicialmente se chamava Malawi, já é habitada há muitos séculos. Os primeiros forasteiros a chegar foram os árabes por volta de 1500, tendo construído a fortaleza, agora denominada de São João Batista, em forma de estrela, com somente três habitações e um quintal. Os árabes vinham comprar escravos, mandíbula de elefante e ouro. Os régulos da ilha iam regularmente ao continente buscar mainatos e que depois vendiam como escravos aos árabes.
No século XVII, os holandeses descobriram prata na ilha e expulsaram os árabes.
Depois de se terem fixado na Ilha de Moçambique, a primeira capital da província de Moçambique, os portugueses começaram a explorar as Quirimbas. Em 1735, os primeiros portugueses instalaram-se na ilha.
A primeira construção defensiva foi o Fortim de São José que ficou pronto em 1760 e que serviu de cadeia de escravos. As instalações eram exíguas e todos os dias de manhã ao abrir a porta, os guardas encontravam dois ou três escravos mortos, que enterravam na praia, plantando em cada cova uma palmeira.
Um ano mais tarde, foi erigida a igreja de São Baptista e em 1789 ocuparam a fortaleza árabe, tendo-a restaurado e expandido. Seis anos depois, concluem a construção duma capela dentro da fortaleza. Finalmente, em 1847 foi construído o fortim de Santo António como prisão.
Mas na ilha não viviam somente portugueses, mas também chineses que vinham buscar alturia, indianos que exploravam o comércio e franceses que compravam prata para moedas.
A população local continuava porém a viver nos bairros, fora da vila, em habitações feitas com pedra coralina e cobertura de macúti — como aliás ainda vive hoje. Nós embrenhámo-nos pelo bairro e ficámos à conversa com Zeina que nos ensinou a fazer luminu, um ensopado de mandioca seca com peixe frito.
Como declinar do comércio dos escravos, a ilha perdeu interesse económico e capital de Cabo Delgado passou em 1928 para Porto Amélia, atualmente Pemba. A Ilha do Ibo ficou somente com grande interesse histórico.

Matemo











































Deixáramos a confusão de Pemba havia somente 25 minutos. A avioneta de três lugares já sobrevoara um mar com uma água totalmente cristalina com uma tão grande variedade de tons azuis e verdes que nos roubara a respiração. O mar parecia uma gigante tela.
Lá em baixo, na pequena pista de Matemo, esperavam-nos amavelmente Karen e Jason du Plessis, os diretores-gerais do Matemo Island Resort. Assim que descemos da avioneta, recebemos uma toalhinha fresca que nos alivia o calor que logo se faz sentir assim que pomos os pés em terra. À nossa frente uma tabuleta, rodeada com as bandeiras de Moçambique, do Grupo Rani e do aldeamento, dava-nos simpaticamente as boas vindas. Ainda mal chegáramos e já nos sentíamos em casa.
Uma camioneta aberta, pintada de cores alegres, levou-nos para o edifício principal, passando por muita vegetação tipicamente africana. Um potente embondeiro fixou-se imediatamente na minha lente fotográfica mental.
À entrada, um grupo de funcionários recebeu-nos efusivamente saudando-nos e oferecendo-nos um cocktail de frutos, bem fresquinho.
Ao pôr do sol, acedendo ao convite para um aperitivo antes do jantar, tivemos a oportunidade de conversar com Karen e Jason sobre Matemo e o grupo Rani que acima de tudo pretende oferecer verdadeiros santuários ecológicos em ambientes de luxo mas de grande simplicidade para que o cliente possa vivenciar a 100% o destino.
Os resorts do Grupo Rani disponibilizam aos seus clientes alojamento de luxo a nível mundial em localizações de grande beleza e biodiversidade naturais, de riqueza histórica e com oportunidades únicas e exclusivas e aventura e desporto — ou somente para relaxar e descansar.
Matemo Island Resort tem 24 chalés, situados em cima da praia, com casa de banho completa mais um duche exterior, protegido por uma paliçada que nos permite tomar banho tendo por cenário as águas maravilhosas do Oceano Índico.
Teve-se o cuidado de assegurar que os edifícios se integrariam nas envolvências naturais. Coberturas de macúti dão aos chalets um charme rústico; a sofisticação das habitações vem não só dos mármores usados nas casas de banho mas também das madeiras de Zanzibar e dos tapetes vindos do Dubai.
Na varanda, podemos repousar em confortáveis cadeiras de verga ou numa simpática rede. Se preferirmos estar quase em cima do mar, podemos levar para a praia as chaises-longues que também nos são disponibilizadas. Os produtos de toilete da marca Maria Garcia, com um aroma muito suave, deixam o quarto com uma fragância muito agradável.
Matemo é um das 34 ilhas coralinas do arquipélago das Quirimbas, descritas pela primeira vez pelo cronista António Bocarro em 1634, e que lembram pérolas atiradas ao mar junto à costa norte de Moçambique.
Segundo as lendas locais, o nome vem da arte de fazer as casas com pedras e caniço ou maticar, no dialeto local (se bem que em Português maticar significa latir). Tem 28 km de cumprimento e 7 de largura, por onde se espalham sete aldeias, habitadas maioritariamente por crianças — é que a população é 90% muçulmana, tendo cada homem duas, três, quatro ou até cinco mulheres. Os seus habitantes vivem essencialmente da pesca. Mal o sol nascem, os homens saem nos seus dhows, embarcações à vela, já usadas pelos árabes antes da chegada dos portugueses, regressando a meio da tarde com muito peixe e marisco. As mulheres ficam em terra e tratam das suas machambas, pequenas hortas de milho, mandioca e outros vegetais, que consomem e vendem ao hotel.
Karen e Jason du Plessis desfazem-se em amabilidades, tentando tornar a nossa estada verdadeiramente inesquecível. Na primeira noite, propõem-nos um jantar numa pequena plataforma mesmo junto ao mar sob um céu repleto de estrelas. É-nos servida uma deliciosa sopa de abóbora com coco, camarão e peixe-pedra grelhado.
No dia seguinte ao almoço, almoçamos à sombra do grande embondeiro centenário cujo enormes ramos abrigam numerosos pássaros e borboletas. A lagosta grelhada soube-nos ainda melhor.
Para relaxarmos, Joanne, a massagista da unidade, que irradiava calma e harmonia, leva-nos até ao spa, propondo-nos uma massagem feita com produtos Moya, feitos à base de plantas africanas.
Incrivelmente bela e original, Matemo oferece diversas atividades no meio dum grande palmeiral. Ideal para quem quer quebrar a rotina diária, a pequena ilha de Matemo, com somente 8 km de comprimento e 3 km de largura, oferece dias sem pressa e despreocupados.

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Sopa de abóbora com coco (Moçambique)

Inspirei-me na sopa de abóbora que comemos no Matemo Island Resort

2 abóboras amarelas
5 dentes de alho
1 cebola pequena
2 colheres de sopa de óleo de palma
1 folha de louro
Sal e pimenta
10 cm de raiz de gengibre
1 colher de sopa de caril em pó
1 colher de chá de açafrão das Índias
Piripirir
Sumo de 1 limão
400 ml de leite de coco

Descasque as abóboras e corte aos cubos. Descasque e pique o alho e a cebola. Descasque e pique o gengibre.
Aqueça o óleo de palma e refogue a cebola, o alho, o louro e o gengibre. Junte as especiarias e deixe apurar.
Junte a abóbora e deixe estufar um pouco.Regue com o leite de coco e coza até a abobora se desfazer. Se estiver muito espessa, junte um pouco de água. Aromatize com o sumo de limão. Retifique os temperos e sirva.

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Salada de camarão com abacate (Moçambique)

Receita dada pelo chef Lino do Mejumbe Private Island Resort
24 camarões cozidos, sem casca
1 pera abacate
1 alface
1 mão cheia de tomate-cereja

Molho :
1 chávena de maionese
1 iogurte natural
3 colheres de sopa de concentrado de tomate ou ketchup

Decoração:
Salsa

Lave a alface e corte em juliana grossa.
Corte os tomates-cereja ao meio.
Descasque a pera abacate e corte aos cubos.
Para o molho, misture a maionese com o iogurte e o concentrado de tomate.
Numa saladeira, coloque todos os ingredientes. Regue com o molho e sirva.

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CARIL DE AMENDOIM (Moçambique)

1 galinha, cortada aos pedaços
250 g de amendoim (miolo, sem película)
6 tomates, aos cubos
2 cebolas, picadas
Piripiri
Sal


Coloque o amendoim num liquidificador juntamente com duas chávenas de água fria e bata até ficar em puré.
Num tacho, ponha a galinha cortada, juntamente com o tomate, a cebola e o piripiri. Tempere com o sal. Deixe estufar um pouco. Junte o amendoim e deixe cozer aproximadamente 1 hora, mexendo sempre.
Se achar que o molho está muito espesso, pode acrescentar um pouco de água e deixar apurar em lume brando. Acompanhe com arroz branco ou com chima de arroz.

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quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Chai




























































































Tínhamos que voltar para Pemba. Mas como? Não haveria outra rota sem ser aquela terrível estrada de Diaca para Macomia? Vendo o mapa, ponderámos a hipótese de fazer um caminho mais longo através de Mueda e Montepuez, caso a estrada fosse alcatroada. Perguntámos a um polícia como estava essa estrada. Péssima, foi a resposta. E aquela picada ao longo da costa? O polícia riu-se. Quer ir pelo mar? Não há mesmo outro caminho? Que não, que não havia. Teria mesmo de ser através da estrada das crateras. Decidimos então sair cedo de Mocimboa da Praia para fazer todo caminho com luz.
A viagem de regresso demorou ainda mais que a de ida. Se por um lá viajámos de dia, por outro apanhámos grandes chuvadas que ainda nos obrigaram a ir mais devagar — devagar, devagarinho, parados…
Enfim, tivemos porém a oportunidade de ir vendo a paisagem e até parámos uns 30 minutos em Chai para visitar o MUCHAI, ou seja, o Museu de Chai que conta a história do 1º tiro. Foi aqui em Chai que em 25 de Setembro de 1964 se iniciou a Luta Armada de Libertação Nacional contra as autoridades coloniais portuguesas com o ataque da Frelimo à casa do chefe do posto.
O nosso guia explicou-nos detalhadamente como decorreu esse 1º tiro dado pelo (agora general na reforma) Alberto Chipande. A história foi-nos contada com muita emoção, se bem que com algumas datas baralhadas. Mas é bom também ouvir o outro lado da história.

Mueda — Mocimboa do Rovuma


























































Para muitas famílias militares, Mocimboa do Rovuma é um nome familiar. Muitos Pais estiveram lá durante a guerra colonial. Para mim, Mocimboa do Rovuma, Mueda, Tenente Valadim eram locais onde a guerra colonial significava mesmo guerra. Onde havia muitas ações dos “turras”, como eram chamados os elementos da guerrilha que lutavam pela independência de Moçambique (e das outras colónias). Lugares inóspitos, no meio do mato onde as famílias não tinham lugar. As mulheres e os filhos dos militares poderiam juntar-se-lhes em cidades e vilas mais fáceis, mais longe dos cenários de guerra como Porto Amélia (atualmente Pemba), Vila Pery (atualmente Chimoio), Inhambame, Nampula ou mesmo Lourenço Marques (atualmente Maputo).
Ao tornar-me adulta, comecei a interessar-me por esses momentos da minha história familiar que era ao mesmo tempo parte da história de Portugal. Comecei a visitar os novos países africanos que faziam parte das nossas ex-colónias. Especialmente Moçambique onde o meu Pai esteve por diversas vezes, antes e durante a guerra colonial. Mueda e Mocimboa do Rovuma eram para mim locais agrestes, duros, inóspitos, agressivos. Este ano, resolvi ir até lá para aclarar de vez as minhas fantasias. Na preparação da viagem, reli todos os aerogramas que o meu Pai nos escreveu de Mocimboa do Rovuma e fiz várias investigações quer nos arquivos militares quer na internet.
Queria ir visitar esses lugares mas não queria ir de mãos vazias. Afinal, era como “ir à terra”, pois lá “vivi” através dos relatos do meu Pai entre novembro de 1969 e meados de 1971 - e ninguém vai à terra sem presentes. Através da AAAIO recolheram-se 20 kg de roupa de bebe. A Lufthansa associou-se à ação e ofereceu uns sacos com chinelos. Foi assim equipada com dois grandes caixotes que parti de Lisboa.
Cheios de entusiasmo, saímos de Mocimboa da Praia com a certeza de que a estrada até Mueda estava muito boa e de que só teríamos picada durante os aproximadamente 50 km que distam de Mueda a Mocimboa do Rovuma. Grande azar! Ao chegarmos a Mueda, começa a cair uma chuvada típica da época húmida que transformou parte da estrada nacional em passagem de águas. Pior: o início da picada que nos levaria a Mocimboa do Rovuma estava totalmente desfeito; não era uma via mas um rio de largo porte com grande corrente! Que fazer? Ficámos uma meia hora parados em frente da fissura da estrada sem saber tomar uma decisão. Víamos as pessoas a passar a vau com grande dificuldade. Perguntámos então se seria possível ir com o nosso jipe. A resposta foi unânime: a estrada estava intransitável e assim se manteria nos próximos dias.
Que fazer? Só tínhamos mesmo aquele dia. De repente lembrei-me que tinha visto um sinal para o Hospital Rural de Mueda, Fomos até lá. Falámos com a direção na pessoa do Senhor Macassar Cheia, chefe da contabilidade, e lá deixámos os 20 kg de roupa de bebé da AAAIO e os chinelos da Lufthansa. Ficaram felizes ao ver tanta roupa linda, em parte nova.
Não cumprimos a nossa missão. Mas ajudámos um grupo de bebés que frequenta o Hospital de Mueda e assim indiretamente a população de Mocimboa do Rovuma. E aproveitámos para ver Mueda, uma pequena vila de província, um pouco esquecida dos governantes por estar muito longe de Maputo.
Quisemos almoçar, mas as restaurantes de Mueda só funcionam com reservas... de comida. Chegar a um restaurante e querer comer não é possível. Conclusão: não almoçámos.
Decidimos então ir visitar o Museu do Massacre de Mueda. No livro "Guerra Colonial", de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes (Ed. Diário de Notícias), afirma-se que "no dia 16 de Junho de 1960 (....) reuniram-se em Mueda milhares de agricultores da região para exigirem do Governador, presente no local, a melhoria das condições de vida e a possibilidade de criação de cooperativas. Depois de mais de quatro horas de reunião sem qualquer acordo, as autoridades acabaram por dispersar a multidão com recurso às armas, o que se traduziu por verdadeiro massacre, julgando-se que possam ter morrido cerca de meio milhar de pessoas" (pág. 106).
A visita ao museu não foi porém possível, pois o “diretor estava de descanso” como nos explicou o funcionário. Restou-nos passear pela parte exterior do museu, onde está a vala comum dos moçambicanos mortos durante o massacre.

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Mocimboa da Praia
































Chegados à noite a Mocimboa da Praia, não encontrávamos ninguém a quem perguntar pelo caminho para o Chez Natalie onde iríamos pernoitar. Mas finalmente lá demos com o lodge, que fica fora da povoação, depois do cemitério.
O hotel está muito bem instalado em frente a um grande mangal com uma bela vista para um braço do mar. Tem uma série de chalets, muito espaçosos que comportam até 4 pessoas, com cobertura de macúti.
A sala das refeições está interessantemente decorada com máscaras macondes.
A proximidade à natureza tem porém as suas desvantagens, nomeadamente, visitas inesperadas de roedores atrevidos.
Na 1ª noite, o Hans-Jürgen sente algo a roer-lhe as unhas. Acorda, acende a luz e procura em todo o lado por um animal. Não encontra nada e volta a adormecer.
No dia seguinte, depois dum estafado dia em Mueda, deixamos no quarto um pacote de bolachas enquanto vamos jantar. Ao regressar, todas as bolachas estão espalhadas pelo chão.
- temos um animal no quarto! - Constato. O Hans-Jürgen vai procurar um funcionário. Vem um senhor armado com um pau. Ao ver as bolachas no chão, comenta: “Isto é rato”. Naquele instante, vemos um rato a correr sobre as almofadas. O senhor corre atrás dele e mata-o à paulada na casa de banho.
Descansados, fechamos aporta para nos proteger de mais visitas. Azar, porém. De repente, vemos um outro rato a correr sobre a nossa cama. Abrimos a porta do chalet e afugentamos o bicharoco que finalmente sai. Fechamos de novo a porta, convencidos de que o caso estava resolvido. Ao acordarmos verificamos porém que um ratinho se tinha deliciado com as mangas que compráramos na véspera — e até com a minha mochila….
Mocimboa da Praia é uma pequena cidade de província que ainda mantém a traça colonial e as suas casas. Parece que ficou parada no tempo. Os seus edifícios estão como há 37 anos, só que com mais o pó dos anos…
Cheio de vida é o mercado de peixe no porto dos dhows, Os pescadores regressam e toda a praia se enche de vendedores e compradores.

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Viagem PP — pesadelo e paraíso










Esta nossa viagem foi bastante diversificada em emoções e sensações.
O voo da SWISS até à África do Sul foi como se esperava: calmo e sem incidentes de espécie alguma. Em Joanesburgo tínhamos à nossa espera Martin e Irma Snoek que nos mimaram nas horas que estivemos na sua casa. O braai (churrasco) mar e terra oferecido foi, como sempre, delicioso. No dia seguinte pela manhã partimos para Pemba, com uma curta paragem em Maputo. Esta viagem em nada se compara à grande viagem que o meu Pai fez em novembro de 1969, que demorou vários dias, pois não só ao avião militar se estragou tendo obrigado a uma paragem de vários dias em Luanda como o voo de Lourenço Marques para Porto Amélia demorou várias horas, tendo pousado na Beira, Quelimane e Nampula antes de chegar ao destino.
O aeroporto de Pemba é …. minúsculo. Na sala de espera das bagagens, mini mas com tapete (mini) rolante, tivemos uma boa sessão de sauna...
Quando saímos do terminal, Jasper, a quem tínhamos alugado o jipe não estava no aeroporto como combinado. Fomos então para o Pemba Beach Hotel and Spa procurar o responsável. Finalmente, tudo se resolveu. Nunca fizéramos um aluguer tão pouco burocrático. Quando perguntei ao Jasper da Safi Rent se poderíamos tratar do paperwork dentro do hotel Pemba Beach por causa do calor ele replicou admirado: “Which paperwork?”. Entregou-nos a chave, nós pagámos-lhe em dólares e cada um seguiu o seu caminho, despedindo-nos até 4ª feira seguinte!
Eram quase 15h quando partimos de Pemba. O condutor do shuttle do hotel tínhamos dito que lá para as 17—18h estaríamos em Mocimboa da Praia. Acreditámos….
Os primeiros 200 km, até Macomia, fizeram-se lindamente, numa estrada que poderia ser em Portugal, não fosse atravessar aldeias de palhotas e de nos cruzarmos constantemente com pessoas a caminhar na berma da estrada. Em Macomia, a estrada alcatroada acabou e começou o nosso pesadelo: 100 km de estrada estragadíssima (seria bastante melhor se tivesse sido uma picada), cheiíssima de buracões que lembravam em parte crateras. Para complicar a situação, anoitecera cedo, por volta das 17h45. A noite africana é mesmo escura, não há poluição luminosa nenhuma. As pessoas continuam porém não só caminhando à beira da estrada como gostam de socializar no meio da…. estrada completamente às escuras. Deitam-se no alcatrão ou na terra e ficam a conversar e a olhar as estrelas. Foi uma condução muito difícil e dura. Já passava das 21h30 quando chegámos a Mocimboa da Praia, o nosso ponto de paragem intermédio – e o porto onde atracavam os barcos que levavam as tropas portuguesas para os postos no Norte de Moçambique nos idos anos 60 e 70.