quarta-feira, fevereiro 19, 2014

95 anos a defender o IO e a enaltecer as antigas alunas

Em 1919, o então diretor o Instituto de Odivelas (IO) criou a Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas (AAAIO) com o intuito de apoiar as alunas que, após saírem da escola, viessem estudar para Lisboa. Nasceu assim a primeira associação feminina em Portugal. Desde então, a AAAIO tem apoiado não só antigas alunas como a escola a que tanto devem.
O exemplo de trabalho das antigas alunas na sociedade é o melhor espelho da excelência do ensino do IO. Esta escola, que até há uns anos funcionava exclusivamente em regime de internato, tem sabido dar às suas alunas não só uma formação académica de excelência, como ferramentas para a vida que lhes permitam ser independentes financeiramente. O IO prepara as meninas para serem mulheres, grandes mulheres. Dá grande importância a valores como o rigor, a ordem, a pontualidade, não menosprezando a solidariedade, a camaradagem, a tenacidade, a integridade moral, espírito de disciplina e noção de responsabilidade.
Isabel Gago entrou para o IO em 1922. Após o liceu, inscreveu-se em 1933 no Instituto Superior Técnico, onde se formou e foi docente - a primeira mulher professora de Engenharia em Portugal, uma das mulheres pioneiras numa profissão a que, até então, apenas tinham acesso os homens.
Maria de Lourdes Mimoso Ruiz entrou para o IO em 1936. No exame de admissão à faculdade tem a nota mais alta nesse ano. Cinco anos depois, termina o curso, com as duas notas mais altas desse ano. Mais tarde, é convidada para assistente de Matemáticas Puras pelo professor Almeida Costa, que trouxe a nova álgebra para Portugal e que era diretor da própria faculdade e da Academia das Ciências. Trabalhou ainda com o professor Sebastião e Silva, pioneiro da reforma da matemática e representante do Movimento das Matemáticas Modernas em Portugal.
Maria Antónia de Luna Andermatt foi a grande impulsionadora do bailado em Portugal. Entrou para o IO em 1935. Graças à sua grande força de vontade, à sua muita tenacidade e ao seu empenhamento, chegou ao expoente máximo do bailado. Nos anos 60 cria nas instalações do Teatro Nacional de São Carlos o Centro de Estudos de Bailado do Instituto de Alta Cultura com o objetivo de formar bailarinos para uma futura companhia, que finalmente funda em 1977. Há poucos anos, criou a Companhia Maior, formada por profissionais do teatro, da dança e da música, com mais de 60 anos.
Julieta Graça Espírito Santo deixa São Tomé para continuar os estudos, entra no IO em 1933 e licencia-se em Medicina em Portugal. Volta para São Tomé, onde chega a diretora do Plano, que incluía as pastas das Finanças, da Cooperação e da Administração, representante nacional da OMS - Organização Mundial da Saúde e deputada da ADI - Ação Democrática Independente.
Após a conclusão do ensino secundário no IO, Irene Quintanilha inscreveu-se em matemáticas por mero acaso. No entanto, o seu empenho e tenacidade levaram-na a ser a primeira catedrática de Matemática do Mellon College of Science, da Universidade de Carnegie Mellon, em Pittsburgh, nos EUA, e a presidente da Sociedade Americana de Matemática Aplicada e Industrial.
A primeira mulher que obteve um brevet militar em Portugal, Paula Costa, é uma antiga aluna do Instituto de Odivelas, assim como Ana Maria Lobo, a presidente da Associação de Mulheres Cientistas, AMONET, e membro do board da Plataforma Europeia Mulheres Cientistas (EPWS)...
Estes são alguns exemplos de grandes mulheres com lugares de destaque na sociedade portuguesa e que passaram pelo Instituto de Odivelas. A lista é muito maior e não cabe neste espaço. Mulheres que marcam a nossa história e o nosso país. Todas elas reconhecem que devem a sua formação e a sua carreira profissional à educação que tiveram no IO, uma escola de excelência, onde se aprende muito com uma disciplina que nos dava muita força interior. Ao serem um marco na nossa sociedade espelham o que de melhor há no Instituto de Odivelas.
A tenacidade, a força de vontade, a camaradagem foram as forças motoras que fizeram avançar a Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas, que discreta, mas afincadamente, tem ultrapassado todos os obstáculos, lutando pela sua escola e amparando as suas colegas e a comunidade em que está inserida. Foi assim que criou, nos anos 70, um lar de idosas para apoiar antigas alunas no final das suas vidas. E a mesma motivação levou-as a colaborar com a Câmara e a Junta de Freguesia de Odivelas num projeto de solidariedade num bairro problemático de Odivelas, onde a AAAIO ajuda mais de 260 famílias com parcos recursos.
A defesa do IO tem sido sempre também a sua bandeira. Uma escola que na recente história do País tem sido objeto de interesse de vários sectores, mantendo-se a AAAIO firme ao lado do IO para que este continuasse a ser a casa das meninas que aí recebem a sua formação e os instrumentos para vencerem na vida e se tornarem grandes mulheres.
A AAAIO tem mostrado sempre disponibilidade para ajudar o IO na criação de um infantário que, juntamente com a criação do ensino básico, poderá criar passagem sem sobressaltos das alunas entre ciclos.
A AAAIO considera que, tendo em conta a excelência de resultados em vários campos deste colégio centenário, aliada ao facto de a utilização do espaço, nomeadamente do núcleo monumental, ter contribuído indubitavelmente para a preservação do património, deveriam ser dadas condições à atual direção para relançar o IO, demonstrando quão verdadeiro é o seu lema Duc in altum - Cada vez mais alto.
DN 19.02.201

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sexta-feira, fevereiro 07, 2014

Pequenos prazeres

Quando um dia me cruzei com o livro  The God of Small Things da escritora indiana Arundhati Roy apaixonei-me logo pelo título. As pequenas coisas, os pequenos prazeres são vitais – como dizem os alemães “Kleine Geschenke erhalten die Freundschaft” (pequenos presentes mantêm a amizade viva). Um copo de vinho à lareira, uma chávena de chá quente e dois dedos de conversa com uma amiga, brincar com os meus filhos nas ondas da praia, um duche quente depois da ginástica, ler um livro na cama antes de adormecer. Todo o stress do dia desaparece como que por encanto. O quarto na penumbra, o calor do edredão no qual me enrolo, as mãos de fora a agarrar o livro. Assim me deixo levar para outro mundo. Às vezes adormeço com o livro nas mãos – feliz, relaxada, reconfortada. Apago então a luz e durmo como um anjo, embalada pela trama da história.