terça-feira, maio 29, 2012

O poder das mãos


Muitas vezes, esquecemo-nos do poder das nossas mãos. Para o bem e para o mal. As nossas mãos podem bater, destruir, roubar, estragar, até matar. Mas são essas mesmas mãos que acariciam, consolam, constroem.



Com as mãos amamos,
Com as mãos matamos.

Com as mãos acariciamos,
Com as mãos batemos.

Com as mãos construímos,
Com as mãos destruímos.

Com as mãos unimos,
Com as mãos rasgamos.

Com as mãos damos,
Com as mãos retiramos.

Com as mãos consolamos,
Com as mãos desanimamos.

Com as mãos comemos,
Com as mãos estragamos.

Com as mãos cosemos,
Com as mãos rasgamos.

Com as mãos atamos,
Com as mãos desatamos.

Com as mãos escrevemos,
Com as mãos apagamos.

Com as mãos partilhamos,
Com as mãos guardamos.

Com as mãos confortamos,
Com as mãos angustiamos.

Com as mãos aliviamos,
Com as mãos carregamos.

Com as mãos animamos,
Com as mãos entristecemos.

Com as mãos vestimos,
Com as mãos despimos.

Com as mãos fortalecemos,
Com as mãos enfraquecemos

Com as mãos amenizamos,
Com as mãos dificultamos.

Com as mãos fazemos a paz,
Com as mãos fazemos a guerra.

                                                M.Margarida Pereira-Müller
                                               Queluz, 29 de maio de 2012

sexta-feira, maio 18, 2012

O coração deitou uma lágrima


Hélder sonhava há anos com umas pequenas flores brancas que havia na sua terra. Desde que se mudara para a terra da sua mulher, Gilberta, nunca mais as tinhas visto. E sonhava com elas.


- Que saudades que tenho das florzinhas brancas das minha terra! – dizia amiúde.


Já as tinham procurado em todo o lado: nas grandes cidades onde há tudo de tudo o mundo, nas aldeias recônditas onde ainda se encontram as coisas do antigamente, nas vilas do interior onde as lojas, por falta de fregueses, guardam pequenos tesouros secretos cheios de pó que já ninguém quer. Até já tinham falado com produtores de flores, se teriam as ditas florzinhas brancas, se as poderiam plantar.


Nada. Ninguém tinha, ninguém as queria ter. Agora só se viam flores beges. Os jovens e as crianças já nem conheciam as florzinhas brancas.


- Florzinhas brancas? O que é isso? Nunca vi – respondiam admirados.


Um dia, Gilberta, em viagem de trabalho pelo país vizinho, encontrou, a decorar a mesa do pequeno-almoço, as florzinhas brancas. O seu coração rejubilou.


- Há anos que Hélder procura estas florzinhas brancas! Deve ainda haver nesta cidade. Vou procurá-las.


Entrou na primeira loja de flores e pediu toda contente, já imaginando a alegria que iria dar a Hélder.


- Tem florzinhas brancas?


- O quê?


- Florzinhas brancas, como as flores beges, mas brancas.


- Não, menina. Agora as flores são todas beges.


- Mas havia ali no hotel… - respondeu entristecida Gilberta.


Mas Gilberta não esmoreceu. Entrou na loja do lado. De novo a mesma resposta. E em todas as lojas daquela cidade, Gilberta obteve a mesma reação de estranheza e a m esma resposta.


Não desistiu porém. Chegou ao hotel, foi à mesa do restaurante e levou todas as florzinhas brancas que lá estavam. Ah, que bela surpresa iria fazer a Hélder! Até ficou com um sorriso nos lábios ao pensar na alegria que lhe iria dar.


À noite, quando se chegou a casa, pôs as florzinhas brancas na mesa.


Quando ele chegou, abriu-lhe a porta toda contente.


- Tenho uma surpresa para ti.


Hélder não se mostrou muito interessado em saber qual era. Foi ao quarto pousar a mala, mudar de roupa. Desceu. Viu as florzinhas brancas e disse sem emoção:


- Ah, florzinhas brancas. Onde as encontraste?


- Havia lá no hotel onde estive.


- Ah – e com a mão, empurrou o cestinho com as flores para o lado.


- Não estás contente por eu ter encontrado as florzinhas brancas? Não as queres?


- Foi simpático da tua parte, mas agora não as quero.


Gilberta nada disse, perdeu o sorriso e o seu coração deitou uma lágrima.